Razão e educação

O retorno às aulas presenciais está envolto em um debate emocionalmente intenso. Há um temor compreensível sobre sua relação com os índices de contágio de Covid-19 e do preparo das escolas para receber de volta os estudantes. Por outro lado, já se contabilizam os prejuízos que o longo período de afastamento das salas de aula acarretam para a formação dos jovens.

Com base em dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), pesquisadores do Insper e do Instituto Unibanco calcularam que as perdas de aprendizagem acumulada ao longo da pandemia chegam a 74% do conteúdo esperado em português e matemática no Brasil.

O atraso tem implicações além das pedagógicas. Os pesquisadores mostram que ele pode representar perdas de até R$ 430 mil na renda projetada ao longo da vida desses estudantes. Isso equivale a mais de R$ 700 bilhões a menos circulando na economia – duas vezes o déficit da Previdência estimado para este ano ou cinco vezes a despesa prevista do Ministério da Educação.

Há também uma perda competitiva internacional. Outro estudo, da Fundação Lemann, mostra que as perdas cognitivas foram menores em países em que o tempo de interrupção foi menor. Na Noruega e na Estônia, onde os alunos ficaram até cem dias sem aulas, os níveis de aprendizado praticamente não se alteraram.

Isso não quer dizer que se deva enviar as crianças para as escolas de qualquer maneira. É preciso um esforço para adequar estabelecimentos para o retorno seguro, com distanciamento e medidas de prevenção, bem como com aceleração da imunização até os mais jovens – há inclusive vacinas adequadas para menores de 18 anos. Atenuar paixões e racionalizar o debate é a receita para garantir proteção e educação essenciais para o futuro de crianças e adolescentes.