Artigo

Um risco à vida dos catadores

Trabalho informal nos lixões

Por Francisco Oliveira
Publicado em 15 de fevereiro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A falta da gestão de resíduos vai além dos impactos negativos na economia brasileira e na saúde pública. Trabalhadores informais, mais conhecidos como “catadores”, recuperam e vendem materiais recicláveis retirados dos lixões – um trabalho nobre e honroso que garante a coleta e triagem de materiais recicláveis, gerando múltiplos benefícios sociais. Porém, coloca suas vidas em risco.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, de acordo com um relatório da Associação Internacional de Resíduos Sólidos (ISWA) e da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a exposição aos lixões a céu aberto tem um impacto prejudicial sobre a expectativa de vida da população maior do que a malária.

A atividade é considerada pela Secretaria do Trabalho insalubre em grau máximo, pois os catadores estão submetidos a calor, umidade, ruídos, chuva, risco de quedas, atropelamentos, cortes, contato com ratos, sobrecarga por levantamento de peso e contaminações por materiais biológicos.

Já o estudo realizado pela Coordenação de Vigilância e Saúde (Covisa), pela Fundacentro e pelos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (CRSTs), analisou as condições de trabalho, saúde e segurança de, aproximadamente, 900 catadores do Estado de São Paulo. Na pesquisa, foram encontrados agentes químicos no ambiente de trabalho que causam doenças respiratórias e dermatoses por contato.

Além dos riscos de doenças osteomusculares e circulatórias, os trabalhadores que lidam com as prensas enfardadeiras das centrais não possuem proteção, o que traz risco de amputações.

Não bastasse sofrer com todos os riscos e exploração da força de trabalho, os catadores encaram o que chamo de “marginalização da profissão”, que nada mais é do que o preconceito da sociedade – mesmo sendo os grandes responsáveis pelos altos índices de reciclagem no país. Afinal, eles carregam dentro das carroças não lixo, mas sim mercadorias.

O que muitos não se dão conta é que a desvalorização dos catadores é prejudicial ao ambiente e à sociedade, pois. além de serem o meio mais eficiente e econômico de garantir a coleta e triagem de materiais recicláveis, geram múltiplos benefícios sociais, econômicos e ambientais.

Mesmo com a situação de precariedade na qual esses trabalhadores vivem, a grande questão é que não existiria reciclagem no Brasil se não fosse o esforço dos catadores. O poder público precisa assumir suas responsabilidades com o meio ambiente, com a população e, principalmente, com esses profissionais.

A inclusão social e a formalização da atividade devem ser articuladas a uma política que garanta a segurança e benefícios para essa classe, o que poderia ser incorporado às políticas públicas de serviços, saúde e laboral, desde que essas áreas se integrem, de forma objetiva, para buscar soluções que valorizem esses trabalhadores e minimizem os danos a eles.

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