Em 28 de fevereiro, recebemos a notícia de que mais de 60 árvores seriam cortadas no entorno do Mineirão para que a cidade pudesse sediar a corrida da Stock Car. Apesar da intensa mobilização, no raiar do dia seguinte e sem nenhum diálogo, algumas árvores já estavam tombadas. Mesmo destino tiveram um Flamboyant e uma espécie não identificada de médio porte na praça Raul Soares, menos de um mês depois, e diversas outras árvores cuja supressão não ganhou visibilidade, mas deixou a cidade ainda menos verde.
A capital de Minas Gerais, que começou a ser construída em 1897, nasceu orgulhosa de suas “ruas largas e arborizadas”, e de receber a alcunha de “cidade jardim”, termo que remete a um certo “higienismo parisiense” de nosso projeto original. É inegável, no entanto, que seja pelo ideal eurocêntrico, seja pelos quintais, jardins e matas que sempre insistiram em existir para além da avenida do Contorno, Belo Horizonte já foi de fato arborizada, e a luta contra a derrubada das árvores não é novidade por aqui.
No dia 20 de novembro de 1963, 350 fícus foram cortados da avenida Afonso Pena, sob a justificativa de que estavam infestados pelos insetos Gynaikotrips ficorum, apelidados de “amintinhas”, em referência ao então prefeito, Amintas de Barros. A retirada das árvores dividiu a opinião popular e correu a versão de que a motivação era a necessidade de alargar a avenida para comportar mais automóveis. Anos depois, em 2013, nasceu o movimento Fica Fícus, em defesa dos centenários pés de fícus da avenida Bernardo Monteiro, no bairro Santa Efigênia, infestados pela mosca-branca, a Bemisia tabaci. Apesar da relevância que o movimento ganhou na cidade, vários desses fícus também tombaram sob a gestão de Marcio Lacerda.
Os cortes agora, na era Fuad Noman, trazem novos sentidos diante da urgência climática. De acordo com o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais, BH foi a capital do Brasil que mais aqueceu em 2023, aumentando em impressionantes 4,23 graus sua temperatura média.
O poder público, no entanto, parece pouco atento à gravidade da situação. Recentemente, a Câmara Municipal de Belo Horizonte rejeitou um projeto do Executivo que propunha uma política municipal de mudanças climáticas e melhoria da qualidade do ar.
Diante desse quadro, estamos fazendo o possível para lutar, também no legislativo municipal, pela preservação de áreas verdes na cidade. Sou autora da Lei, junto com Bella Gonçalves (PSOL), que declara o valor ecológico, paisagístico, cultural e comunitário da Mata do Planalto, uma reserva de 200 mil m², remanescente da Mata Atlântica. Com Iza Lourença (PSOL), apresentei um projeto de lei semelhante para preservação do Parque Jardim América, uma área verde de cerca de 21 mil m² situada na Avenida Barão Homem de Melo. Este projeto já foi aprovado em 1° turno e em breve deve virar Lei.
Neste ano, diante dos episódios na Pampulha e na Raul Soares, as bancadas do PSOL (Iza Lourença e eu), do PT (Bruno Pedralva e Pedro Patrus) e o vereador Wagner Ferreira, do PV, apresentamos um projeto de lei que obriga a Prefeitura a avisar previamente sobre os cortes de árvores, tornando públicos os laudos técnicos que os justificam.
Assim, poderíamos ter tido tempo de contestar a aparente fragilidade dos laudos que justificaram os cortes na praça citando, inclusive, a população em situação de rua como possível autora dos danos ao meio ambiente. Temos o direito de saber e questionar essas decisões que impactam na nossa qualidade de vida e nas cores do desenho da cidade em que vivemos. Você prefere cinza e quente ou verde e fresco?
CIDA FALABELLA é vereadora em Belo Horizonte (PSOL)