Um adeus (talvez) precoce na VNL deixa um gosto amargo. O Brasil foi eliminado para um adversário muito conhecido, mas, dessa vez, não foi a China.

Em uma competição longa como a Liga das Nações, o que se espera é que um elenco, aos poucos, encontre um bom ritmo, um bom entrosamento e, principalmente, evolua como um time. Em 2023, talvez tenha sido a primeira edição em que essa evolução não ficou evidente. A seleção feminina se despediu do torneio como praticamente a mesma que chegou. 

A chegada e a despedida da competição, por serem contra o mesmo adversário, elucidam essa impressão. Nos dois jogos, o Brasil foi praticamente igual. Não em elenco, já que lesões infelizmente tiraram peças importantes, ao passo que jogadoras estreladas chegaram ao longo da competição, mas em atuação e postura em quadra. 

Alguns dos principais pontos de alerta foram a quantidade excessiva de erros - em várias partidas, não somente nas quartas de final. Nem digo somente erros que ficam marcados em súmula e são fáceis de perceber, mas de tomada de decisão em momentos cruciais, que fazem a diferença no resultado de um duelo. Na partida da eliminação, o Brasil cedeu 30 pontos de erros e ficou 15 vezes no bloqueio, dois números preocupantes. Contra a China, o jogo ficou previsível e muito bem marcado. Travado e com pouca genialidade, que faz parte de uma característica muito brasileira de se jogar voleibol. Enquanto nossa seleção jogou incomodada o tempo inteiro, as chinesas estavam se sentindo em casa em quadra.

Com um elenco que é de primeira prateleira, o gosto amargo vem principalmente pela sensação de ‘podíamos muito mais’, como as próprias palavras de Zé Roberto, que fazem eco em milhares de torcedores, disseram. De fato, podíamos. Foi assim na final olímpica em Tóquio, nas finais das VNLs passadas e do Campeonato Mundial. A sensação de ‘podíamos muito mais’ vem sendo repetida em jogos decisivos, e a frustração vem sendo a tônica. Cobramos muito e esperamos sempre o melhor porque sabemos que, de fato, podemos muito mais.

Perder faz parte do esporte, e para uma seleção que subiu consistentemente no pódio nos últimos torneios, é até esperado que, eventualmente, caia um pouco de rendimento. Foi assim com as campeãs olímpicas dos Estados Unidos, que no ano passado também caíram nas quartas de final da VNL e ficaram de fora da briga por medalha. Acontece, mas não pode ser minimizado. É importante falarmos em aprendizados, lições e ajustes, mas também é necessário ter um fogo a mais para querer que as coisas terminem, da próxima vez, quem sabe no Pré-olímpico, de uma forma diferente.

Perder nunca será o problema, porque no esporte, alguém vai sair derrotado. O problema é perder para um adversário muito conhecido, que dessa vez, não foi a China. Foi o próprio Brasil.