Muitos já compreendem que os acontecimentos em sua vida emocional impactam no adoecimento físico. Comumente recebo pacientes que trazem para a consulta sentimentos envolvidos em quadros de dor lombar, crise de enxaqueca ou mesmo a intensificação de artrite relacionada a algum sofrimento.
Há mais de 2.000 anos, com a impossibilidade de realizar exames que apresentassem as doenças dos órgãos, a forma de identificar onde estava o problema era muito diferente. Os sentimentos tinham um lugar de destaque na estratégia de reconhecimento do problema e igualmente da cura.
Desta forma, observamos que a tristeza adoecia o pulmão e o intestino. A preocupação adoecia o pâncreas e o baço. O medo fragilizava o rim e a bexiga. Raiva, desde antigamente, se popularizou como algo que adoece o fígado e a vesícula biliar, e a alegria inconsistente, eufórica e ansiosa fragiliza o coração e o intestino delgado.
Quando uma vivência é muito desafiadora, acompanhada de perdas e tristezas, ela provoca um sofrimento pungente, é comum que a pessoa fique paralisada na dor. Usamos a expressão “estagnar”. A saúde é fluida, nossas energias circulam, a vida segue.
A dor emocional muitas vezes não consegue ser traduzida em palavras, ou em outros casos não tem espaço para essa expressão, ou ainda mais sério, é obrigada a reprimir a expressão.
Tudo que não está alinhado, não está acomodado no nosso ser, toma uma dimensão gigante e ocupa os espaços da harmonia, da homeostase do nosso corpo.
Viver situações consideradas violências, tanto emocionais como físicas, comumente nos faz carregar essa agressão e o autor ou autora em todos os momentos e espaços da nossa vida. Isso dissolve as defesas do corpo, desencadeando tensões musculares, alteração das secreções naturais como o ácido gástrico e bile, alterando a imunidade, levando a doenças autoimunes e até mesmo ao câncer.
Ao perdoar uma agressão, a pessoa para de carregar um fardo e se liberta para buscar novos caminhos, novas possibilidades de reconstrução da vida. Perdoar não significa aceitar e ser conivente com uma situação de violência, mas estabelecer um limite para que aquela situação não continue conduzindo as ações e a própria vida. Não é simples nem fácil perdoar, mas quem investe no perdão adoece menos.
O ritmo do perdão é diferente para cada pessoa e para muitos, ele pode nunca chegar, mas lembre-se, perdão é para você, não para quem te feriu.
Foque em dar os passos possíveis, não em perfeição
Não são raras as situações em que o paciente vive de dor em dor até conseguir se desconectar de um passado sofrido e então, independentemente do tratamento instituído, a melhora acontece.
Para além do cuidado físico, o cuidado psicológico é essencial, como médicos precisamos compreender o todo, sentimentos não voam soltos pelo universo, estão atrelados a um indivíduo e este merece cuidado integral. (Instagram dra Meira Souza)