O mundo vive de tendências. Em 2010 realizei minha primeira formação em ortomolecular. A partir dela, compreendi muitas coisas e passei a dizer aos meus colegas e pacientes sobre a importância de observarmos deficiências e que muitos processos dolorosos poderiam ser resolvidos com magnésio, vitaminas do complexo B e coenzima Q10. Muitas vezes, recebi olhares um tanto incrédulos, e alguns pacientes até ficavam chateados por não sair com uma receita de injeção, anti-inflamatório ou algum opioide.

Mas essa abordagem evitou muitos efeitos deletérios do uso de medicamentos, principalmente quando crônicos, e eu fico muito feliz de ter tido essa visão.

Aos poucos, os pacientes entenderam que a reposição de vitaminas, minerais e antioxidantes poderia gerar muitas mudanças positivas no quadro de saúde.

Nunca substituí a alimentação por suplementação. Tenho dois livros nos quais explico a importância da boa alimentação para a construção de saúde e continuo acreditando que esse é o caminho.

Sempre tive a colaboração de nutricionistas que me auxiliaram na correção dos hábitos alimentares dos pacientes, e isso sempre fez uma diferença muito positiva na minha clínica, principalmente em quadros de dores crônicas, consideradas incuráveis. Um bom exemplo é a fibromialgia.

Quando consigo retirar uma medicação que apenas analgesia a dor para conseguir algo que verdadeiramente acolha as vulnerabilidades, contribuo para que o paciente construa o processo de uma saúde verdadeira.

Mas, como disse no início da crônica, o mundo vive de tendências e, 14 anos depois da minha primeira formação, o panorama é inverso. O paciente chega tomando uma série de suplementos; às vezes quer organizá-los, outras vezes quer começar a tomar porque colegas de academia estão tomando.

Muitos pacientes já chegam com prescrições de suplementos que chegam a custar mais de R$ 3.000 quando buscam uma orientação nutricional. E, cada vez mais, a alimentação deixa de ser prioridade.

Nestes 31 anos de medicina, já vivi muitas tendências e, em todas elas, eu analiso a sustentabilidade.

Substituir alimentos por suplementos não é sustentável nem saudável.

Em alguns casos, o corpo desenvolve uma resistência ao suplemento, tendo dificuldade para absorvê-lo ou metabolizá-lo.

E, mais do que isso, muitas vezes esses pacientes, entupidos de suplementos, também precisam desinflamar, precisam mudar hábitos, precisam poupar os órgãos, em vez de sobrecarregá-los.

Eu, que precisava fazer muito esforço para reduzir remédios substituindo-os por suplementos, hoje vejo um excesso nas suas partes, justificado por uma hiperdesvalorização do nosso solo e da potência fisiológica do nosso corpo.

Na minha percepção clínica, ainda não encontrei nada que substitua bons hábitos e uma vida em equilíbrio.

Meira Souza
Médica e escritora
(@dra.meirasouza)