A dor na face nem sempre tem causas óbvias. Na crônica da semana anterior, expliquei como muitas dores podem ser confundidas com nevralgia do trigêmeo. Outro motivo para as dores faciais é o distúrbio da articulação temporomandibular, mais conhecido como “DTM”.

Os distúrbios dessa articulação causam muita dor, que algumas vezes fica tão alterada que impede a abertura da boca, gerando grande desconforto. Pode acometer os dois lados do rosto e, com muita frequência, a primeira conduta é a utilização de placas, usadas à noite para evitar que a tensão da musculatura aperte os dentes, o que pode causar desgastes ou até fraturas.

Muitas vezes são encontrados problemas dentários que colaboram para a dor, mas devemos dar atenção também à musculatura da face. Podem ser percebidos nódulos fibróticos e fraqueza de alguns músculos, em contraste com outros tensos e hipertrofiados. Algumas situações podem causar até uma assimetria do rosto.

Mais uma vez estamos diante de uma situação em que reabilitar a musculatura pode fazer uma enorme diferença. Embora não seja muito comum, é possível e necessário fazer fisioterapia dos músculos da face.

Como o corpo é todo conectado e a coluna é o eixo, nas pessoas com essas alterações é preciso analisar a coluna cervical. Se ela está fora do eixo, muito anteriorizada, é mandatório corrigir essas alterações para que os cuidados com a face deem resultados satisfatórios.

 
Assim como em uma casa, que não começa a ser construída pelo telhado, mas sim pelo alicerce, quando o nosso corpo se desarmoniza é preciso entender o que é a base. Negligenciar essa base – a coluna, que é o eixo – não vai produzir resultados sustentáveis.

Essa condição é muito vista na clínica de dor: o paciente toma medicamentos há anos, usa placas para evitar o bruxismo, mas permanece sem resolver a dor porque ainda não se dedicou a corrigir as deformidades da coluna.

As alterações da face atrapalham a mastigação, comprometendo a nutrição adequada e, em alguns casos, colaborando para que a pessoa escolha alimentos mais processados e menos saudáveis pela dificuldade de mastigar alimentos mais duros. O hábito de comer alimentos mais macios acaba contribuindo para que a musculatura da face fique ainda mais fraca, de modo que se cria um círculo vicioso: músculos mais fracos, mais dor; mais dor, mais dificuldade na mastigação; e, por conseguinte, músculos ainda mais fracos.

Não existe uma técnica que possa ser usada isoladamente para resolver, de fato, um problema de dor, porque não existe ninguém igual a ninguém. Cada caso é um caso.

A ferramenta mais necessária para quem deseja obter bons resultados no tratamento da dor é a percepção e sensibilidade para elaborar a estratégia mais assertiva, que atue nos fatores que causam a dor.

Meira Souza
Médica e escritora
(@dra.meirasouza)