O desejo de ser saudável está te deixando doente? Essa é uma questão que pode parecer boba, mas que tem me trazido muita reflexão dentro do consultório.

Saúde não é mais apenas a ausência de doenças, bem-estar físico e social. Saúde, agora, é performance.
Até onde esta é uma referência positiva? Nosso desejo por aceitação social, muitas vezes passa pela nossa aparência. Não só queremos um corpo bonito e bem definido, queremos um corpo capaz.

Capaz de exibir não apenas músculos, mas quantidade de quilômetros percorridos, dias presentes na academia e volume de carga que conseguimos carregar.

Reitero que tudo isso é maravilhoso. O problema surge quando passamos a ver estas atividades não como uma ferramenta promotora de saúde, mas como uma constante obrigação.

Nos penalizamos pelo descanso. Cada caloria consumida vira uma meta a ser batida na esteira, e todo suplemento capaz de aumentar a performance é válido, mesmo que não seja indicado.
Ultrapassamos o limite do que seria considerado saudável e nos esquecemos de que uma das máximas de nosso corpo é o equilíbrio para viver bem.

O excesso de exercícios e o estresse constante ao qual somos submetidos acaba por se tornar também um fator gerador de adoecimento. Nosso corpo vira uma linda vitrine, mas com pouco valor real.

Não podemos subestimar também o papel de momentos de lazer e encontros com a comunidade. Somos seres sociais, precisamos uns dos outros para viver bem.

Comida é um elemento afetivo que comumente nos reúne, tudo precisa ser bem equilibrado, uma boa alimentação é essencial até mesmo para que o corpo se recupere adequadamente de atividades físicas. Mas também é importante saber apreciar os bons momentos em família ou com amigos, sem se preocupar constantemente com cada caloria, macronutriente, proteína e fibra ingerida.

Pode parecer contraditório afirmar isso, já que escrevo várias vezes da importância de fazer o básico, praticar atividades físicas, dormir bem e se alimentar adequadamente.

Aqueles que acompanham a crônica há mais tempo sabem que sempre tive um discurso muito alinhado aos cinco pilares da saúde: alimentação, postura, respiração, pensamento e sono.
Mas mesmo estes pilares não podem justificar uma perseguição desenfreada pela saúde perfeita, rotina perfeita, vida perfeita.
Isto não existe, mesmo para aqueles que parecem exibir este feito nas redes sociais, muito provavelmente convivem com a sensação de que poderiam estar fazendo mais.

Em algum momento precisamos buscar também algum contentamento com aquilo que fazemos, ajustar o necessário, mas nos perdoarmos e autorizarmos eventuais desvios, desde que estes não sejam regra.

Uma vida feliz também passa por se permitir viver com plenitude os momentos de felicidade, sem culpa ou estresse desnecessário, quem quer sempre mais nunca tem o bastante.