Você já sentiu vontade de se isolar completamente? De se esconder do mundo para alcançar um objetivo ou para que algo de que você não se orgulhe não seja visto pelo mundo?

Estamos mais expostos e menos conectados do que nunca, em uma era na qual somos cada vez mais acompanhados por sons, músicas, vídeos, demandas e questionamentos vindos de todos os lados – por que nos sentimos tão sós?

Tenho recebido em meu consultório diversos pacientes solitários, pessoas que em algum momento tinham convivência, amizades e proximidade com familiares, mas que por alguma razão hoje se percebem quase isolados do mundo, com relações reduzidas a meros coleguismos. Quando escuto esses relatos, sempre acendo um alerta.

Comumente ignoramos o impacto do isolamento em nossa saúde. Na época da pandemia discutíamos essa questão com muita frequência, mas aos poucos percebi que essa discussão saiu do nosso imaginário, e a solidão passou a ocupar um lugar de estranha glorificação.

Não queremos ser incomodados, remexidos ou minimamente afetados pelo outro. O isolamento passou a ser um luxo.

Não me entenda mal, também é preciso saber apreciar o tempo sozinho, sem a necessidade do outro a todo momento, mas também é importante estar aberto ao envolvimento.

Nos estabelecemos em comunidade. A privação do contato social pode causar uma piora em quadros de dores crônicas, elevar estresse e ansiedade, piorar quadros de depressão e até mesmo aumentar a sensibilidade à dor.

Ou seja, uma pessoa bem-integrada na sociedade, que se sente amada e amparada pelo próximo, assim como o ama e o ampara, sentirá menos dor do que aquela que vive em uma situação de isolamento extremo.

Principalmente nas gerações mais jovens, parece existir um desejo de desaparecer e retornar apresentando uma nova versão de si mesmo, como se o mundo não pudesse acompanhar nossa evolução sem que isso estivesse exposto a julgamentos e comentários maldosos.

É tentador viver em um mundo no qual somos admirados e desejados por todos. No entanto, esse mundo não existe.
O aumento avassalador do consumo de mídias digitais também faz com que o tempo em isolamento não pareça tão entediante e preocupante quanto é.

Porém, todos seremos expostos ao mundo de uma forma ou de outra, e parecemos estar cada vez mais despreparados para o contato com o outro. Ligar para pedir uma pizza se transformou em alguns cliques em um aplicativo, uma conversa por telefone com um amigo se transformou em mensagens digitadas.

Mas será que vale tudo em nome da conveniência?
Penso que o preço que estamos pagando pode estar sendo alto demais.

Ser visto pelo outro é correr o risco de ter expostas partes que te desagradam, mas, diferentemente do que a internet pode estar te fazendo acreditar, você não precisa ser perfeito para ser amado ou querido.

Saúde também é estar integrado em um ambiente que te acolhe e te faz bem.