A importância das equipes multidisciplinares

A medicina passou por milhares de transformações ao longo dos anos. Milênios atrás, os povos antigos já tentavam solucionar demandas da medicina. 

Passamos por muitas fases, e em todas elas toda inovação pode causar resistência. Algumas pessoas pagam preços altos por isso. Atualmente, quando buscamos soluções para condições de saúde, nós, médicos, nem sempre temos condições de cuidar integralmente do paciente. 

Existe na sociedade uma visão de supremacia do médico na percepção do paciente. Porém, muitas vezes, nós, médicos, somos limitados a prescritores ou realizadores de procedimentos específicos. Deixamos de perceber o paciente em sua totalidade e de possibilitar que ele possa resolver seus problemas de saúde de uma forma mais orgânica e sustentável por não termos um empenho, uma disponibilidade ou até a vaidade de envolver outros profissionais nesse cuidado. 

Assim como as especialidades médicas surgiram como uma necessidade de aprofundar o conhecimento em determinada área, outros profissionais da área de saúde vêm crescendo muito e tendo cada vez mais relevância nos cuidados do paciente. 

Sempre entendi que é preciso investir na construção da saúde para que a doença não se instale de forma mais irreversível. Compilei cinco pilares para a construção da saúde: respiração, alimentação, postura, pensamento e sono. Para cuidar desses pilares, claramente não consigo fazê-los sozinha e, por isso, idealizei uma clínica com um trabalho multidisciplinar, onde cada pilar está sob a responsabilidade de um profissional. Para isso, me associei a nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos, diretamente, e indiretamente a educadores físicos e terapeutas ocupacionais. 

Hoje, olho com muita alegria para essa iniciativa que tive há 19 anos, porque os meus melhores resultados vêm dos tratamentos compartilhados, e digo compartilhados porque não existe nenhuma hierarquia do médico em relação aos outros profissionais, que têm excelência em suas áreas. Temos a oportunidade de ter profissionais envolvidos com o paciente, que muitas vezes traz grande complexidade e pode até mesmo ultrapassar demandas resolvíveis por um único médico, mesmo que exista uma grande cobrança social para que o médico seja capaz de realizar tudo. 

O trabalho em equipe, feito de maneira cooperativa, é a melhor solução. 

Um cuidado em equipe não é desistir de cuidar do paciente e entregá-lo a outro profissional. É compartilhar, somar olhares e poder ir além. 

Acredito que muitos pacientes ainda não compreendem quando são encaminhados para outros profissionais, e isso com certeza ainda é uma cultura arraigada de que a solução precisa partir sempre de uma prescrição médica. Quase sempre, uma prescrição consegue apenas aplainar os sintomas, e não retirar o paciente do caminho da doença. 

É preciso valorizar todos aqueles que são capazes de colaborar para nossa verdadeira construção de saúde. 

(*) Dra Meira Souza, médica e escritora 

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