Não é raro que eu receba pacientes na minha clínica com o diagnóstico de fibromialgia. Decidi, portanto, fazer uma sequência de artigos tratando esse tema tão complexo e abrangente.

Uma das maiores reclamações que chegam até mim é a constante fadiga percebida pelos pacientes. Muitas vezes essa reclamação é maior até mesmo do que a referência de dores.

No consultório, afirmam que chegam no fim do dia sem conseguir completar todas as tarefas que se propuseram.

Quando a queixa é dor, o mercado está repleto de opções de medicamentos para oferecer um alívio. Porém, o mesmo não acontece quando fadiga é a demanda principal.

Pensar em fazer atividade física chega a doer. Observar que outras pessoas dão conta de muito mais atividades e, muitas vezes, escutar comentários deselegantes sobre o baixo desempenho é revoltante.

Assim como a dor não pode ser vista, muitas vezes, a fadiga também é descredenciada e, em alguns casos, é tratada como se fosse meramente preguiça.

A fadiga difere da preguiça, embora, na minha opinião, ambas sejam doença. A fadiga apresenta alterações laboratoriais que a identifica, e isso pode ser dosado no sangue do fadigado. Algumas alterações nos hormônios da suprarrenal podem nos auxiliar no entendimento da falta de vigor.

São comuns referências literárias que afirmam que a fibromialgia causa fadiga. Fadiga e fibromialgia andam juntas, mas uma não é a causa a outra. Ambas são causadas pelas mesmas alterações e fazem parte de um quadro que tem em sua base marcadores inflamatórios, distúrbios das mitocôndrias, desqualificação da musculatura, em alguns casos alterações hormonais e quase invariavelmente são acompanhados de estresse emocional.

É quase regra que os pacientes fadigados não consigam se exercitar. Porém, aí está um paradoxo. Embora um paciente fadigado mal dê conta de suas atividades básicas, é ele que, mais do que ninguém, precisa de exercícios.

Convencê-lo disso é desafiador, principalmente porque a musculatura muito desqualificada produz mais ácido láctico que o normal, causando ainda mais dor do que o habitual quando se faz exercício.

Essa dor, associada a um aumento de sua percepção causado pela alteração na produção dos hormônios da adrenal e da baixa produção de serotonina, gera um quadro desestimulante e limitante. Ainda assim, quando mais repouso, mais dificuldade de quebrar esse ciclo de sedentarismo-dor, dor-sedentarismo.

É a partir do treino que haverá uma melhora da força, da qualidade muscular e, consequentemente, redução da dor. A redução da dor diminui o estresse, e a redução do estresse colabora com a redução da fadiga.
Não é simples virar esse jogo, porém, quando bem supervisionado, o paciente consegue.

Esse quadro me faz crer que o quadro parece mais difícil para nós do que é na verdade, mas com pequenos passos chegamos à saúde plena, lugar que cabe a todos.

Meira Souza é médica e escritora