Envelhecemos, isso é inegável. Para muitas pessoas, pode ser um sinal de que problemas virão de qualquer maneira – e, de fato, existem alguns desafios e perdas do envelhecimento que são inevitáveis. Mas até que ponto devemos aceitar tudo a que somos submetidos?
Digo isso pois percebo que o uso de medicamentos “naturais da velhice” tem se tornado cada vez mais comum. E, muitas vezes, essa afirmação de que há um remédio comum a todo um público em determinada época da vida pode ser muito enganosa.
Recebi em meu consultório um paciente muito ativo, capaz de correr quilômetros a fio. Estava dentro de seus 40 anos, na minha opinião, um homem ainda bastante jovem.
Foi ao cardiologista e recebeu o diagnóstico de pressão alta. Começou a se medicar com um vasodilatador. No entanto, o paciente ficou bastante confuso, pois considerava que tinha um bom estilo de vida, se cuidava bastante, e esse resultado não parecia coerente com sua construção.
Em resposta, o médico afirmou a ele que, aos 40 anos, todos utilizam esse tipo de medicação e isso era absolutamente normal para a idade.
É nessa fala que mora o perigo. Observem: o problema realmente existia.
As artérias do homem estavam enrijecidas, mas isso não vinha de sua idade, era um problema evitável e, caso o médico que o acompanhava tivesse ficado mais atento a sinais inflamatórios do corpo, teria sido capaz de prever esse tipo de adoecimento e orientado o paciente a cuidar melhor de seus hábitos.
Sinais como ferritina, fibrinogênio, ácido úrico, interleucina, homocisteína e plaquetas aumentadas são indicativos de inflamação que, ao passearem pelo sangue, endurecem as artérias e causam o problema da pressão alta. Mas isso pode ser revertido com muito mais facilidade do que quando o problema surge “definitivamente”.
Muitas vezes, percebo que a medicina foca muito mais medicar a doença do que prevenir a existência dela. Isso me preocupa muito pois, não raramente, o paciente se ilude pensando estar fazendo o melhor possível e acaba não tendo a opção de se ajustar, uma vez que o médico o mantém na ignorância.
O problema principal desse paciente em questão era o excesso de exercícios. Comumente pensamos que, quanto mais exercício, melhor, mas nos esquecemos de que exercício representa um estresse para o corpo e produz ácido lático. Se a dieta não estiver suficientemente adequada e o descanso não fizer parte da rotina, isso pode, a médio ou longo prazo, causar vários problemas, entre eles, a pressão alta.
Por isso, é importante ter uma visão completa do corpo sem ter como recurso primário o uso de medicamentos. Precisamos, como coletivo, ser orientados para a construção de uma saúde verdadeira, que contemple todos os aspectos do nosso ser.
Saúde é uma construção, e cada um de nós tem um estilo de vida que deve ser essencialmente acompanhado por alguém que esteja disposto a nos conhecer e fazer o melhor para nossa história.
Meira Souza
Médica e escritora
(@dra.meirasouza)