Dra. Meira Souza

Saúde não é mágica

Muitos buscam uma solução sem envolvimento

Por Dra. Meira Souza
Publicado em 23 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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Ao longo da minha vida acadêmica, me deparei muitas vezes com uma situação na qual eu destoei de uma conduta instituída na medicina.

Duas dessas situações estão presentes na minha memória. Uma, em um congresso de dor, em que eu perguntei ao palestrante: “Quais orientações você fez para o paciente?” E ele me respondeu de forma breve: o papel do médico é prescrever.

Em outra situação, escutei o professor dizer que o lugar do médico ainda é o de tratar a doença. 

Esses dois relatos retratam muito bem como é difícil deslocar o médico do olhar treinado para ver doenças e doentes. Não existe doença sem doente nem doente sem pessoa. Logo, em qualquer situação, a pessoa é o centro de todo olhar.

Não é bom, mas é compreensível que o médico reduza a pessoa à doença. Evita o envolvimento, limita sua atuação e igualmente a expectativa sobre soluções mais abrangentes e resultados.

Porém, assisto no meu consultório a um movimento semelhante feito pelo paciente que também deseja que seu desconforto seja reduzido a um procedimento, a uma solução que aconteça independentemente de sua participação ou de seu envolvimento.

Como se os anos de hábitos negativos que construíram o problema pudessem ir embora de maneira saudável em segundos, como num passe de mágica.

A busca por essa solução aumentou assustadoramente o número de procedimentos cirúrgicos, assim como o uso de medicamentos. E, como podem imaginar, isso não se traduziu em sociedade mais saudável.

Eu tento entender essa tendência cirúrgica e empoderar o meu paciente na construção da saúde, e ele não fica feliz. É como se eu estivesse lhe retirando algum direito.

O que está por trás dessa conduta merece uma avaliação. Seria carência? Imaturidade? Ou o desejo de transferir para o outro sua responsabilidade com a saúde? São muitas as possibilidades... O fato é que, muitas vezes, isso me deixa em uma situação muito delicada, em que não existe uma convergência entre o quero para o meu paciente e o que ele espera de mim.

Liberdade exige coragem. Também pelo lado positivo, me surpreendo com pacientes absolutamente audaciosos, querendo participar de todo o processo, querendo entender como adoeceram e o que podem fazer para recuperar a saúde novamente.

E tem um desconforto muito presente em nossa sociedade, principalmente depois da pandemia, que é o sobrepeso. E, para as pessoas que não querem ser reféns de toda a indústria do emagrecimento e querem estar no comando da sua vida, eu escrevi o livro “12 Atitudes para Viver Feliz e em Equilíbrio com o Seu Peso”. 

É um livro com uma proposta libertadora. Porque eu insisto que o melhor papel como médico é descobrir a saúde que existe dentro de cada um. Mas que ninguém é melhor do que você mesmo para gerir sua saúde com maestria.

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