A Inconfidência Mineira, movimento de 1789 liderado por figuras como Tiradentes, teve como estopim a derrama, uma operação fiscal da Coroa portuguesa para cobrar impostos atrasados sobre o ouro em Minas Gerais. A exigência de 100 arrobas de ouro, em meio à decadência da mineração, inflamou revoltas contra a exploração colonial.
Mais de dois séculos depois, a alta carga tributária no Brasil segue como fonte de insatisfação, ecoando o sentimento de injustiça que marcou aquele movimento. Hoje, o peso dos impostos reflete um sistema que onera cidadãos e empresas sem retorno proporcional em serviços públicos.
Em 2024, a carga tributária brasileira atingiu 32,32% do PIB, segundo o Tesouro Nacional, uma das mais altas da América Latina. Isso significa que, em média, cada brasileiro trabalha cerca de quatro meses por ano apenas para pagar impostos. Famílias baixa renda sofrem mais: o Ipea aponta que 59% da renda de quem ganha até dois salários mínimos é consumida por tributos indiretos, como ICMS e IPI, embutidos em produtos básicos.
Enquanto isso, grandes fortunas enfrentam alíquotas menores, evidenciando um sistema regressivo que perpetua desigualdades.
Assim como a derrama penalizava os mineradores sem considerar sua capacidade contributiva, a carga tributária atual asfixia pequenos empreendedores e trabalhadores. O Brasil ocupa a 184ª posição entre 190 países no ranking de facilidade para pagar impostos, conforme o Banco Mundial.
A complexidade do sistema, com mais de 90 tributos e obrigações acessórias, consome tempo e recursos. Em 2024, a Receita Federal arrecadou R$ 2,39 trilhões até outubro, mas a percepção de retorno é baixa: o país está em 124º lugar no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), com deficiências em saúde, educação e infraestrutura.
O grito de Tiradentes contra a derrama ressoa na indignação dos brasileiros de 2025. A alta carga tributária, sem serviços públicos à altura, é uma herança colonial que precisa ser enfrentada ontem e sempre