Enquanto boa parte dos brasileiros se divide entre os que repetem o mantra “A culpa é do PT” e os que bradam “A culpa é do Bolsonaro”, a caravana passa. O IBGE revelou ontem que tínhamos, no ano passado, 13,537 milhões de pessoas vivendo em condição de miséria. A julgar pela lenta recuperação do mercado de trabalho, este 2019 não trouxe melhora.
A gravidade desse recorde triste não permite que o cidadão sente-se confortavelmente em sua casa e aponte culpados. Nem que políticos acusem seus predecessores. A hora pede ação.
É preciso se afastar das paixões para olhar com a necessária distância a situação de um ser humano que sobrevive com R$ 145 por mês. É uma quantia que quem está no topo ou no meio da pirâmide social gasta em uma única refeição ou numa ida com a família ao cinema. A estrutura social de um país que aboliu a escravidão há apenas pouco mais de um século faz com que a cor da pele também seja fator de empobrecimento: segundo o IBGE, pretos e pardos eram 75% dos que estavam na miséria em 2018.
Falta, aos acusadores de plantão, empatia, que é a capacidade de sentir o que o outro sentiria. Ao fazer o exercício mental e emocional de andar com os sapatos do próximo, é difícil permanecer inerte. Do vendedor de frutas no semáforo aos políticos do mais alto escalão, todos tentariam mudar esse estado de sofrimento.
Não é preciso ser rico. Basta que cada um aja com as ferramentas de que dispõe. O pequeno empresário pode dar emprego a alguém que não tem tido oportunidades. O jovem que ganha mesada tem como pagar um prato de comida ao morador de rua. O economista é capaz de apontar estratégias, como o fizeram os vencedores do Nobel de Economia deste ano. O legislador pode – e deve – usar sua caneta para o bem comum.