Editorial

A chaga aberta dos massacres no campo

Atualmente, pelo menos 181 mil famílias brasileiras vivem sob risco na zona rural

Por Editorial O TEMPO
Publicado em 19 de fevereiro de 2024 | 08:00
 
 
 
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A prisão de um dos últimos foragidos da chacina de Unaí, na terça-feira de Carnaval (13.2), despertou a atenção para os conflitos agrários não resolvidos no Brasil. A Comissão Pastoral da Terra calcula que, atualmente, 181 mil famílias vivam sob risco na zona rural.

A comissão catalogou pelo menos 1.080 áreas de tensão em todo o Brasil – 22 em Minas Gerais –, incluindo reservas dos povos originários. Desse total, 60% estão na região amazônica.

Uma força-tarefa federal, envolvendo a Secretaria de Acesso à Justiça, a Pastoral da Terra e a Universidade de Brasília (dentro do programa Memórias dos Massacres no Campo), vai revisar 57 casos entre 1985 e 2023. Somente esses crimes resultado na morte de 293 pessoas em 11 Estados.

Os massacres no campo, como são designados os assassinatos de três ou mais pessoas na região rural, têm motivações ligadas a garimpo ilegal, grilagem, desmatamento ilegal posse de água e exploração do trabalho escravo. Este último, a motivação da chacina de Unaí.

Em janeiro de 2004, os auditores fiscais do trabalho Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares e Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira foram mortos durante uma ação de fiscalização. A condenação dos responsáveis veio apenas em 2013, e dois deles estavam foragidos até a captura de Hugo Pimenta, em Campo Grande (MS), neste mês. Agora, resta impune Norberto Mânica, condenado como mandante do massacre no Noroeste de MG.

Os conflitos no campo são uma chaga crescente na sociedade brasileira. Somente no primeiro semestre do ano passado, foram notificados 973 conflitos, 8% a mais que em igual período de 2022. Mais de 870 famílias tiveram suas casas destruídas, e 554 foram expulsas de suas terras. A violência contra a mulher no campo cresceu 13,8% no período, com 107 vítimas, incluindo 30 adolescentes Yanomami estupradas por garimpeiros.

Virar as costas para esses massacres e permitir que persistam impunes é ser cúmplice de um crime que macula uma das mais valiosas atividades econômicas do país.

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