Sucessor do Crédito Estudantil, o Fies completa 20 anos enfrentando mais uma crise. Quase 60% dos 900 mil contratos estão com atraso de pelo menos um dia. Isso seria irrelevante se a maioria, 45%, não estivesse inadimplente há mais de 90 dias.
Há toda uma geração de brasileiros endividados com o Fies já no início da vida. Metade tem até 24 anos, 60% é do sexo feminino, 79% tem renda familiar de 1,5 salário mínimo, e 89% se declaram brancos ou pardos. Em suma, pertencem a famílias pobres.
Estar inadimplente com o Fies representa ter de parar de estudar, interromper o sonho de ter uma profissão e um emprego, escapar da pobreza endêmica. Durante um tempo, foi possível a esses jovens alimentar essa expectativa, mas o programa fracassou.
Antes de 2015, a taxa de inadimplência era insignificante. Mas daí para cá a situação econômica do Brasil piorou, as pessoas perderam os empregos, e os jovens tiveram de deixar de estudar. O número de novos contratos do Fies regrediu ao do ano de 2010.
No ano passado, foram realizados 82 mil novos contratos. Esse número é dez vezes menor do que o consolidado em 2014. Naquela época, também não era exigido fiador dos estudantes, e eles tinham 18 meses depois de formados para começar a pagar.
As reestruturações feitas no programa também contribuíram para a redução do número de clientes. O governo subsidia industriais e agricultores, mas corta os recursos do Fies. Cerca de 1.300 universidades não receberam repasses do MEC neste ano.
São R$ 3 bilhões a pagar. Esse é um dos desafios do novo ministro da Educação, Abraham Weintraub. O governo reduz os recursos, mas existem problemas também de gestão. Dos 100 mil novos contratos oferecidos, só 65 mil foram preenchidos.
A inadimplência é um problema para os estudantes, mas também o é para o governo.