Se tivesse obtido o voto dos 62 milhões de brasileiros que estão com o nome sujo no SPC, o então candidato Ciro Gomes teria sido eleito presidente da República. Com muito menos votos, Jair Bolsonaro foi o eleito.
A promessa de buscar uma solução para os inadimplentes do país impulsionou a campanha do ex-presidenciável, tanto que ele ficou em terceiro lugar no primeiro turno. Não foi, é claro, o único motivo, mas pode ter sido o principal.
O endividamento é uma aflição real dos brasileiros, refletindo-se na economia. O cidadão não se torna inadimplente porque quer, mas porque aconteceu algo em sua vida que o fez deixar de honrar seus compromissos.
No Brasil, a causa determinante é o desemprego. Quando o país entrou em crise, em 2014, a Serasa contou 51 milhões de negativados. Em 2015, segundo o SPC, eram 57 milhões e, em 2018, são 62 milhões – um recorde.
Em quatro anos, o número de inadimplentes subiu mais de 5 milhões. A taxa de desocupação de pessoas com mais de 14 anos passou de 6,8% para 12,7% em junho último, correspondendo a 6,5 milhões de desempregados.
Os negativados são pouco menos de um terço de nossa população adulta total com mais de 20 anos. A inadimplência aumentou também entre as pessoas com mais de 60 anos, universo que tradicionalmente é mais cauteloso.
Metade dos devedores tem dívidas com o cartão de crédito, o crédito pessoal, o crédito consignado, o financiamento habitacional e de automóvel. De um saldo de R$ 3 trilhões do sistema financeiro, eles devem R$ 96 bilhões.
A recuperação do mercado de trabalho, com aumento do emprego e da renda, poderia fazer as pessoas acertarem suas contas. Não aconteceu e não vai acontecer em pouco mais de um mês. A perspectiva é o 13º salário.
Provavelmente, este será usado para pagar dívidas. Se o for, terá menor impacto no incremento das vendas de fim de ano, a não ser no crédito. O endividamento das famílias, tirando a casa própria, foi de 23% em agosto.