As perdas da educação devido à pandemia estão entre aquelas que por mais tempo serão sentidas pela sociedade. Serão necessárias ao menos quatro décadas para superar os impactos sobre as crianças, como estimou a Sociedade Brasileira de Neuropsicologia na série de reportagens especiais “O Abismo da Educação”, publicada por O TEMPO. Por isso, propostas como a da volta às aulas presenciais para crianças de até 5 anos, anunciada ontem pela PBH para o fim deste mês, devem ser acompanhadas com atenção.
É nessa faixa etária que os alunos adquirem funções cognitivas que serão a base sobre a qual se assentarão a alfabetização básica e o conhecimento numérico elementar.
Mesmo antes da pandemia, o Brasil apresentava defasagens graves na área. Nos dados da prova internacional do Pisa, o país aparece em 57º lugar em capacidade de leitura e entre os dez piores em matemática – dois terços dos alunos avaliados com 15 anos, por exemplo, sabiam menos que o básico nesta última disciplina.
Para agravar o cenário, estudo publicado na “Educational Researcher”, no fim de 2020, mostra que a falta de aulas reduz em até 63% o aprendizado algébrico e até 37% o de leitura. E, no início da pandemia, 20 milhões de estudantes brasileiros ficaram completamente sem aulas – inclusive remotas –, segundo o DataSenado.
O retorno responsável e seguro às salas de aula não é um processo simples. É preciso atenção ao risco de contágio, que pode chegar a ser de uma para 60 outras pessoas, segundo estudo da UFMG, e às medidas de distanciamento e profilaxia nas escolas. É igualmente necessária a participação de toda a comunidade escolar (professores, funcionários, estudantes, pais e dirigentes) no planejamento e na execução para que o resultado seja o melhor para a saúde e o futuro das crianças.