Basta de intolerância

Não há como argumentar que é liberdade de opinião quando ela é expressa por disparos de fogos de artifício contra patrimônio público ou por urros de ofensas pessoais, como ocorreu no fim de semana contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso, não poderia ser diferente a resposta do Judiciário, com a abertura de inquérito pela Procuradoria Geral da República e prisões dos suspeitos.

A escalada de violência já se encaminhava para esse desfecho. Um dos detidos no fim de semana, um ex-servidor da área de direitos humanos, havia participado das agressões contra profissionais de saúde, e o grupo apontado é o mesmo que, numa questionável inspiração estética na Ku Klux Klan, havia se postado diante da Corte com tochas e capuzes sobre o rosto.

Como ressaltado na enérgica resposta do presidente do STF, Dias Toffoli, trata-se de uma ataque às instituições democráticas. Não se pode admitir que o recurso do uso legítimo da força seja usurpado do Estado por grupos radicais – armados, como a própria líder de um deles admitiu –, não importando de que orientação política seja, sob o risco de ruírem os alicerces da estabilidade democrática.

Instituições são compostas por seres humanos e sujeitas a falhas. Até por isso, vive-se um período de crise em relação a elas. Na pesquisa CNT de janeiro, apenas 5% diziam confiar no Judiciário, e não chegava a 1% a fé no Congresso. Mas a Constituição brasileira prevê mecanismos para transformar essa insatisfação em correção das falhas, todos eles baseados no diálogo e no respeito à lei.

O episódio mostra que chegou a hora do basta aos ânimos armados e à polarização sem controle e de lembrar que não se constrói uma nação com o ódio, mas sim com o respeito.