Editorial

Casa digna para o povo negro

O enorme déficit habitacional no Brasil de hoje se conecta ao processo iniciado logo após a abolição, quando não houve inclusão digna dos escravizados

Por O Tempo
Publicado em 20 de novembro de 2023 | 07:10
 
 
 
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Uma das reportagens do jornal O TEMPO sobre a onda de calor da última semana estampava uma pessoa em situação de rua tentando se refrescar com um copinho d’água em Belo Horizonte. Outra matéria do mesmo tema retratava o sofrimento de moradores do aglomerado da Serra. O que há de comum entre a quase totalidade dos personagens é a cor da pele. 

Entre as mais visíveis mazelas da escravidão, está a marginalização do povo negro do ponto de vista habitacional nas grandes cidades. No dia em que é celebrada a memória de Zumbi dos Palmares, líder quilombola, é propício refletir sobre a segregação territorial que ainda permanece.

O déficit habitacional de hoje se conecta ao processo iniciado logo após a abolição, quando não houve inclusão digna dos escravizados. Atualmente, faltam 6 milhões de domicílios no Brasil, segundo última pesquisa da Fundação João Pinheiro (FJP). Ao multiplicar esse dado pelo número médio de habitantes por domicílio, o resultado quantitativo é de quase 30 milhões de pessoas sem casa. Três em cada 10 brasileiros (sendo dois negros) ainda moram de aluguel, em ocupações ou de favor com outras pessoas, segundo dados do Datafolha.

Sem um lugar para morar, resta à essa parcela da população ocupar as periferias dos grandes centros, em habitações incompatíveis com a dignidade humana – distantes de serviços e empregos e perto de catástrofes. 

Um estudo feito pelo Instituto Pólis em São Paulo (SP), Recife (PE) e Belém (PA) mostra que os negros são maioria em áreas de risco. No Recife, o estudo indicou cerca de 680 áreas de risco de deslizamento. A maior parte delas concentrada em regiões de mangue, onde a proporção de moradores negros é de 68%. 

O abismo racial na ocupação da cidade será uma realidade enquanto não houver intervenção do poder público em um projeto de Estado voltado para a habitação.

Muito mais que um teto, o lar é a o lugar para o indivíduo desenvolver seus potenciais, criar memórias e exercer seu papel de cidadão. 

 

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