Choveu muito nessa quinta-feira (15). Até então, o dia mais chuvoso registrado neste ano em Belo Horizonte. E, como sempre acontece, vários trechos da malha rodoviária foram alagados, transformando-se em armadilhas mortais.
Uma mulher e a filha dela, que ainda era uma criança, morreram abraçadas no interior de um carro levado pelas águas na avenida Vilarinho, em Venda Nova. Por lá veículos se amontoaram uns sobre os outros. O lugar é potencialmente perigoso porque as galerias não conseguem conter o volume de água da chuva.
Não tão longe da primeira tragédia, outra ocorria. Na avenida Doutor Álvaro Camargos, uma adolescente de 16 anos caiu em uma galeria pluvial e foi arrastada. O corpo da jovem foi encontrado nessa sexta-feira (16), 4 km depois do local em que desapareceu. Há ainda um provável quarto óbito: um homem que se afogou no córrego próximo à ocupação Vitória, no limite com Santa Luzia.
O prefeito assumiu a responsabilidade pelas mortes, prometendo desembaraçar imediatamente obras que precisavam ter sido feitas há anos. Objetivamente, a responsabilidade não é de Alexandre Kalil, mas do município, que não as executou. Recentemente, ele disse que as enchentes só acabarão daqui a 40 anos. Ele tem razão, porque isso só será possível quando a mentalidade das autoridades e da população mudar radicalmente para outra cultura.
Por enquanto, predominam a ocupação desordenada do solo e seu mau uso. Durante décadas, os administradores públicos só cuidaram da mobilidade urbana, abrindo e asfaltando vias para a circulação de veículos. Nesse ímpeto, aterraram ou canalizaram, paulatinamente, todos os cursos d’água. Nessas circunstâncias, as águas das chuvas não são absorvidas pelo solo nem contidas pelas tubulações.
As cidades são feitas para abrigar o homem, mas também podem ser mortais, quando as leis da natureza não são observadas e a educação ambiental é subestimada por autoridades e população.