Editorial

Cultura da morte

Avanço dos assassinatos e associação com abuso às mulheres e armas de fogo


Publicado em 20 de outubro de 2020 | 03:00
 
 
 
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A cada dez minutos um brasileiro foi assassinado no primeiro semestre deste ano. Apesar do isolamento social decorrente da pandemia, o número de homicídios, latrocínios e lesões corporais que levaram a óbitos cresceu 7% em relação ao ano passado, invertendo uma curva de queda nas mortes violentas intencionais. “Perdemos a chance de aprender e salvar vidas”, afirmou o presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima.

O anuário do fórum não explica as razões do aumento das mortes, mas levanta questões que podem indicar problemas que agravam a situação. Um deles é a violência contra a mulher. Os registros de agressão e crimes sexuais recuaram 9,9% no período, muito em função de eles dependerem que a vítima vá a uma delegacia em meio a severas restrições de deslocamento, o que indica subnotificação. Para corroborar essa hipótese, as ligações para o 190 para denunciar feminicídios subiram 1,9%, e, para acusar atos de violência contra a mulher cresceram 3,8%.

Outro fator foi a maior disponibilidade de armas de fogo, com a flexibilização das regras de porte e posse no país. Das mortes violentas, sete em cada dez foram causadas por disparos de revólveres, pistolas, espingardas, fuzis e outros artefatos do gênero. Somente na categoria caçadores, atiradores e colecionadores (cujo acesso ao porte foi facilitado no último ano), existem hoje 496 mil armas de fogo registradas no país – mais que o dobro do ano passado.

Trata-se de uma combinação perigosa a junção da dificuldade de denúncia, da cultura de abuso e da disponibilidade de armamento letal. Não há sociedade que consiga conviver com tal situação. Chegou a hora de dar um basta nessa conjuntura homicida antes que não haja mais vidas a serem salvas.

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