O início da vacinação de profissionais da educação contra Covid-19 abre caminho para a correção de alguns dos trágicos efeitos da pandemia sobre a sociedade brasileira: o agravamento da desigualdade no acesso à educação e a redução do aproveitamento escolar dos jovens. Passados 14 meses do início da crise sanitária, mais de uma dezena de Estados ainda não retomaram as aulas presenciais. Em BH, a volta de parte do ensino fundamental (6 a 12 anos) está prevista para o próximo dia 21, ainda assim em sistema de microbolhas de seis alunos por três horas. 

O Unicef estima que 5 milhões de crianças e adolescentes estejam fora das escolas – o equivalente a um recuo de 20 anos no nível de estudantes matriculados no país –, sendo que quatro em cada dez deles têm entre 6 e 10 anos, exatamente o período crucial para a alfabetização e aprendizado para as bases do conhecimento matemático. 

Para os pesquisadores da Fundação Getulio Vargas, tanto tempo e tantas crianças com acesso precário ao ensino podem levar a um retrocesso de até quatro anos no nível de aprendizagem. Uma situação que é mais crítica para jovens de periferia, negros e filhos de pais com baixa escolaridade, aprofundando ainda mais as barreiras no caminho para a melhoria das condições de vida dessas pessoas. 

O acesso desigual aos recursos tecnológicos no Brasil prejudicou a estratégia da oferta de conteúdos digitais e aulas remotas. Mesmo escolas de primeira linha levaram algum tempo para se ajustar à nova realidade. 

Vacinados os educadores, o novo desafio é prover ambientes seguros contra o contágio para as crianças e os adolescentes e, principalmente, introduzir uma nova cultura de responsabilidade e equidade que permita a todos os jovens o aprendizado pleno e a construção do futuro.