Editorial

Dia da Mulher: por uma outra sociedade

Desde 2015, foram cometidos 10,5 mil feminicídios, em geral, por companheiros ou ex-companheiros das vítimas

Por Editorial O TEMPO
Publicado em 08 de março de 2024 | 07:00
 
 
 
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Hoje, 8 de março, é Dia Internacional da Mulher. O natural e esperado é que sejam feitos discursos com descrição exaustiva dos problemas e desafios enfrentados por 4 bilhões de mulheres, como se no lugar delas estivessem. Mas o homem que sou não ouviu, na primeira infância, qual o jeito certo de se sentar, qual palavra não fica bonito dizer ou quais brinquedos ou jogos não foram feitos para mim. 

O homem que sou nunca precisou parar diante do armário e pensar se, com a roupa que escolhi, posso usar o ônibus ou o metrô sem entrar para o grupo das 78 mil pessoas que denunciaram importunação sexual somente nos primeiros cinco anos em que a prática se tornou oficialmente crime. 

O homem que sou não sabe o que é vigiar inquietantemente o copo nas festas, andar com a mão sobre as nádegas e o peito nas aglomerações ou atravessar uma rua vazia com o pânico e a consciência do perigo de se tornar uma das 65.569 vítimas de estupro (pelo menos, as que registraram ocorrência policial) no Brasil somente em 2022. 

O homem que sou não teve a experiência precoce do etarismo de chegar aos 30 anos e ser julgado por não se parecer mais com quem era aos 20. Nem sou cobrado por não me vestir de forma atraente e elegante, ou não pintar o rosto, ou pintar demais, ou mesmo por não querer tirar os pelos do corpo. 

O homem que sou, após uma jornada de oito horas no trabalho, não é cobrado de mais nada além de recuperar-se para retornar ao emprego no dia seguinte. E quem compartilha o lar e a família comigo passa quase sete horas a mais que eu nas atividades domésticas.  

O homem que sou pode ir para casa e se sentir seguro de que não será uma das 10,5 mil vítimas de homicídios motivados por gênero desde 2015, cometidos, em geral, por companheiros ou ex. O homem que sou, mesmo consciente de tudo isso, nunca saberá na pele o que é ser mulher. 

Mas o homem que sou pode e tem que lutar por uma sociedade que não seja determinada por sexo, raça, idade ou qualquer outro critério que nos diferencie, mas que tenha por base sólida o que nos une: a humanidade. 

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