A comunidade internacional se pergunta se Juan Guaidó obteve algum resultado positivo com as últimas manifestações que convocou na Venezuela. O presidente Jair Bolsonaro, correligionário do autoproclamado presidente, considerou que não houve derrota, embora Guaidó não tenha, ainda, logrado seu intento.
Como militar e político, Bolsonaro ponderou, no entanto, que o presidente de fato, Nicolás Maduro, só cai se o exército bolivariano for desidratado pelas deserções de seus membros, sobretudo daquelas de mais alta patente, como os generais. De acordo com informações locais, as forças armadas da Venezuela têm 2.000 generais.
O apoio parece pouco provável. Os militares constituem a força que, hoje, sustenta Maduro. O desfile com cerca de 4.000 soldados bem alimentados foi uma demonstração de que a Venezuela se aproxima de um Estado militar, assim como acontece atualmente na Síria e no Egito. Maduro seria, assim, quase um títere.
Os militares tornaram-se o governo de fato do país. Se tivessem um ideário democrático, como os militares brasileiros, poderiam exercer seu papel moderador e entregar o poder constitucional aos civis, para que esses disputassem o governo em eleições limpas e diretas organizadas e administradas pelo Judiciário.
Não é o caso. Na transição do populismo chavista para o regime autoritário atual, o voto – alvo de fraudes – perdeu seu valor, sendo substituído pelo estamento militar, que ocupou o lugar estratégico de dar consistência ao governo de Maduro. Segundo um analista local, o exército deixou de ser neutro e apolítico.
Isto ocorreu porque a estrutura das forças armadas da Venezuela não é vertical, mas horizontal.
O poder militar se distribui entre vários chefes. Como esses fazem parte do governo, tendo acesso aos recursos do Estado, são leais – por enquanto – a Maduro. Trata-se de um fenômeno típico de clientelismo político.
Por isso que está difícil a Guaidó, mesmo com o apoio da opinião pública, conseguir avançar.