Jô Soares tem sido uma feliz surpresa no ambiente ácido das redes sociais desde ontem, quando o humorista faleceu. Menções positivas ao apresentador são praticamente unanimidade entre os internautas. Os fóruns virtuais, capazes de dissolver qualquer reputação, reconhecem o legado de Jô para a liberdade de expressão, seja como humorista ou entrevistador. A memória do artista vai se desenhando como um exemplo de tolerância muito bem-vindo em um período de violenta polarização.
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Na TV desde 1956, Jô Soares repercutiu em esquetes ou entrevistas grandes momentos da história nacional. Tinha vasto capital intelectual, era poliglota, estudou na Suíça e flertou com a carreira de diplomata, mas nunca deixou que a erudição atrapalhasse a comunicação com as massas. Pelo contrário.
O telespectador que buscava relaxar ao fim do dia era atraído pela irreverência dos talk shows e recebia, além de humor refinado, discussões sérias com os mais variados personagens da política, das artes e do cotidiano.
Era inevitável, em um programa diário, tocar nos mais espinhosos assuntos da pauta nacional. E Jô não se escondia da responsabilidade de dar voz às diversas opiniões, mesmo na época em que a TV aberta era praticamente o único meio de comunicação.
Os formatos dos dispositivos se multiplicam ao longo do tempo, mas as sementes plantadas por Jô em décadas de carreira devem ser cultivadas, e sua memória, preservada com a de um grande brasileiro.
A convergência de vozes tão polarizadas entorno da figura de Jô Soares, nem que seja por um momento, já é capaz de renovar as esperanças de que ainda é possível conviver em paz com o contraditório.