Editorial

Lembre-se de Hiroshima

76 anos da bomba atômica no Japão


Publicado em 06 de agosto de 2021 | 03:00
 
 
 
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O passar do tempo endurece, atenua as cicatrizes, apaga a memória, faz as pessoas se acostumarem. Mas não devia, como afirmou a escritora Marina Colasanti em livro de 1972. Hoje, completam-se 76 anos do lançamento da bomba atômica que ceifou cerca de 140 mil vidas em Hiroshima – no mesmo Japão que hoje é sede dos Jogos Olímpicos, uma festa à vida.

Infelizmente, o pedido por um minuto de silêncio nos eventos esportivos às 8h15, momento da detonação em 6 de agosto de 1945, foi negado por Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional – na cerimônia de encerramento, haveria uma lembrança.

É duro ver que bastaram sete décadas para se perder o pudor de menosprezar o significado do primeiro emprego de armamentos atômicos contra seres humanos. Naquela manhã, no epicentro da explosão, milhares de pessoas foram simplesmente vaporizadas. De algumas, sobrou apenas uma sombra projetada pela radiação nas paredes destruídas da cidade.

Deixar que a memória seja apagada tem consequências. Líderes de Rússia e Estados Unidos hoje orgulham-se de anunciar novos e “melhores” armamentos, como mísseis com motores nucleares capazes de voar indeterminadamente e desviar das defesas ou prever gastos de US$ 634 bilhões nos próximos oito anos para modernizar seus arsenais – apenas 21 países têm PIBs maiores que esse valor. E não são os únicos a investirem em uma nova corrida armamentista nuclear de potenciais cataclísmicos.

Thomas Bach também não é o único. O mundo, cúmplice dessa disputa de poder, faz silêncio maior, exemplificando o que Marina Colassanti resumiu: “A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma”.

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