O Brasil vem assistindo a um debate provocado pelo atual governo que seria, em princípio, desnecessário, diante dos problemas urgentes que confrontam o país. No entanto, também ele pode ter sua utilidade, de modo a clarear muitas questões.
Tudo começou com a recomendação do presidente para que as Forças Armadas comemorassem o dia 31 de março de 1964. Diante do incômodo, houve um recuo, com o presidente indicando que o evento fosse rememorado, o que é diferente.
O ministro da Educação também se manifestou, afirmando que os militares, em 1964, instalaram no país um “regime democrático de força”. Ele argumentou que os livros escolares deveriam registrar que naquela data não houve um golpe de Estado.
Por fim, respondendo a críticas do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o governo afirmou que não teria havido um golpe de Estado, mas um movimento político apoiado pelo Congresso, pelo Judiciário e pela população para afastar a ameaça do comunismo.
O documento contém algumas afirmações significativas: que lembrar a data não significa uma justificativa para os casos de violação de direitos humanos durante o período; e que a data abre para o debate público um acontecimento histórica importante.
A discussão pode ser incômoda, mas tem pertinência. Trata-se de um assunto que ainda não foi suficientemente debatido entre as partes envolvidas, sobretudo porque algumas delas se encolheram, recusando-se a fazê-lo e a abrir seus arquivos.
Durante o regime militar, a história foi contada pelos vencedores de 1964. Com a redemocratização do país, ela passou a ser escrita pelos perdedores. Uma gigantesca pesquisa tem sido realizada, gerando livros e filmes, e está longe de ser esgotada.
A história de 1964 não foi apagada. E ainda está viva na memória.