O assassinato de um pré-candidato a vereador em Patrocínio, no Alto Paranaíba, a poucos dias do início da campanha eleitoral, traz à lembrança um período de coronelismo e mandonismo na política – e a certeza de que a mentalidade que o regia ainda não foi completamente superada.
É chocante presenciar o encontro do passado de truculência com a tecnologia moderna, que permitiu filmar a interrupção da live de Cássio Remis, registrar a discussão que terminou em sua morte brutal e viralizar o fato pelas redes sociais quase em tempo real.
Nos últimos quatro anos, 327 homicídios, atentados, agressões, ameaças e ofensas foram mapeados pelas organizações Terra de Direitos e Justiça Global em todo o Brasil. Se contados somente os assassinatos, foram 27 por ano.
A democracia não coaduna com a violência como meio de solucionar conflitos e calar adversários nem com a truculência e a exibição da força. A representação dos legítimos interesses da sociedade na arena política pressupõe a liberdade de expressar os argumentos, com respeito ao contraditório e à integridade dos agentes.
É no período das campanhas eleitorais que os brasileiros mais intensamente vivem a experiência democrática representativa. Nelas é que o debate livre permite conhecer opiniões diferentes, expressar concordância e divergência, inserir-se em grupos com preferências semelhantes às suas e formar a consciência que será expressa fisicamente no voto.
As instituições políticas avançaram muito, permitiram o sufrágio feminino e dos analfabetos, criaram mecanismos de participação direta e de freios aos arroubos autoritários e da corrupção. Permitir que a violência ponha esses ganhos em risco é não somente um crime, mas um retrocesso civilizatório.