Editorial

O bicho da inflação

Alimentação e de medicamentos puxam alta acumulada do custo de vida


Publicado em 12 de maio de 2021 | 03:00
 
 
 
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A divulgação da inflação oficial, ontem, retrata para a população brasileira, de forma cruel, a realidade de um dito popular: “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Os dois segmentos com maiores altas, alimentação e saúde, acuam a população para um ponto em que fica cada vez mais difícil comer bem para evitar doenças ou tratar os males de uma dieta deficiente.

Na edição de terça-feira, reportagem de O TEMPO mostrou que o pãozinho subiu mais que o salário mínimo e a inflação nos últimos 12 meses devido a custos de matéria-prima e produção – com o dólar estabilizado acima dos R$ 5 e a grande demanda por commodities, não é de se esperar que o trigo baixe tão cedo.

Nos últimos 12 meses, o IPCA acumulou uma alta de 6,76% no país (acima do teto da inflação para o ano). Em Belo Horizonte, o índice foi ainda maior: 7,18%. Entre os gêneros alimentícios, óleos e gorduras subiram 68,24%; cereais e legumes, 41,31%; carnes, 37,87%; e aves e ovos, 13,59%. Custos em alta que mostram que até a substituição por alimentos mais em conta tem ficado mais difícil.

Ao mesmo tempo, o reajuste de até 10,08% dos medicamentos em abril pesou não só no IPCA, mas na capacidade da população de enfrentar doenças. Mais aumentos estão por vir. A Agência Nacional de Saúde vai anunciar o índice de reajuste dos planos de saúde individuais na próxima semana. Mas a perspectiva de que o índice seja próximo de zero, em vez de alívio, traz a preocupação de que a compensação venha nos planos coletivos e empresariais – que representam 80% dos contratos hoje existentes e que não possuem controle pelas agências reguladoras.

Essa é a face atual do dragão da inflação: um bicho que sufoca a economia e drena as forças e a saúde da população sem deixar saídas.

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