As imagens apocalípticas das chuvas da última terça-feira em Belo Horizonte estão armazenadas em gigabytes de vídeos e fotos de alta resolução, mas a raiz desse caos jaz na era pré-TV a cores. Os danos a patrimônios materiais, principalmente na região Centro-Sul, são mais um alerta que obriga autoridades públicas, sociedade civil e empresários a olhar com atenção para o futuro da cidade no que tange ao planejamento.
“O espaço urbano é um reflexo tanto de ações que se realizam no presente como também daquelas que se realizam no passado e que deixaram suas marcas impressas nas formas espaciais do presente”. Essas palavras do professor e geólogo Roberto Lobato Corrêa, no livro “O Espaço Urbano”, explicam a relação fatal entre intervenções equivocadas feitas pelo poder público há décadas e tragédias recentes. Tais ações políticas nem sempre são guiadas pelo espírito da prudência, mas por objetivos eleitoreiros e tantos outros alheios às necessidades dos cidadãos e da metrópole no longo prazo.
O córrego do Leitão, canalizado na década de 70, por exemplo, passa sob vias que foram devastadas anteontem. O empreendimento foi realizado sob o pretexto de cessar as enchentes à época.
Agora, a prefeitura se preocupa acertadamente em contornar a crise humanitária, tendo em vista as mais de 50 vidas perdidas na última semana, os milhares de desabrigados e o abalo na infraestrutura. Paralelamente, a academia, as organizações sociais, a imprensa, os indivíduos devem começar a cultivar ideias que vão se concretizar em uma nova Cidade Jardim por meio de políticas urbanas.
Ou as administrações públicas deletam o imediatismo, ou nossos netos verão versões cada vez mais modernas e macabras do filme a que estamos assistindo nesta semana.