O mal do alarmismo

A morte de Paschoal Demartini Filho, 55, comprova a gravidade do mal que atingiu pelo menos oito pessoas em Belo Horizonte, Nova Lima e Ubá. Mas, mais do que isso, mostra o lado humano que o estardalhaço nas redes sociais sobre o assunto acabou abafando.

Desde o fim do ano, hospitais começaram a receber pacientes com náusea, vômito e dores abdominais. Em poucos dias, o quadro deles evoluía para insuficiência renal aguda e alterações no sistema nervoso. Em comum, os fatos de os acometidos serem homens e terem passado, de alguma forma, pelo bairro Buritis, na região Oeste da capital.

A incerteza sobre as causas e as coincidências sem explicação se tornaram ingredientes de tramas tão complexas quanto sem provas, tão ao gosto das teorias que povoam a internet. Mas elas deixam ao largo a dor das famílias, que aguardam algum caminho que leve ao tratamento eficaz de seus parentes, e a desinformação multiplica a angústia. Como disse uma amiga da família de Paschoal: “Tudo ainda está turvo”.

Não se pode negar o direito à expressão nem deixar de reconhecer o papel das redes sociais de dar voz às opiniões e à ansiedade do público – que, em outra escala, sofre com a indefinição –, mas é preciso admitir que o limite desses benefícios da tecnologia é o sentimento das pessoas diretamente atingidas. Por isso, antes de postar qualquer coisa, é preciso prudência e empatia para evitar alarmismo e sofrimento.

O essencial agora é a rapidez e a precisão das autoridades públicas sanitárias – que atuam em parceria nas esferas estadual e federal – na investigação das causas dessa enfermidade e na aplicação do melhor tratamento a esses homens afligidos pela doença, para que, enfim, a dor deles e de suas famílias seja afastada.