Num comunicado transmitido pela TV estatal, as autoridades da Arábia Saudita enfim admitiram que o jornalista Jamal Khashoggi está morto. Anunciaram também a demissão do chefe da inteligência e a prisão de 18 pessoas.
O jornalista, que era um crítico do regime e morava nos Estados Unidos, onde escrevia para “The Washington Post”, havia entrado no consulado saudita em Istambul, na Turquia, para obter um documento para se casar, e de lá não saiu mais.
O desaparecimento gerou um problema diplomático com a Turquia, com a imprensa local acusando o governo saudita de ter torturado, decapitado e esquartejado o jornalista. Riad negava que isso tivesse acontecido, apesar de serem muitas as evidências.
No dia 2 de outubro, data em que o jornalista ingressou no consulado, deixando sua noiva na porta, chegaram em Istambul dois jatinhos, levando pessoas carregando várias malas e uma serra elétrica. Essas pessoas entraram e saíram do edifício.
Pressionado a dar uma explicação, o governo saudita abriu investigações, inclusive permitindo que elas fossem acompanhadas por autoridades turcas. O presidente norte-americano, Donald Trump, também interveio, sem esconder o desconforto com o tradicional aliado.
Agora, veio uma explicação: uma briga no interior do consulado na qual o jornalista teria morrido. Nem uma palavra, porém, foi dada a respeito do corpo de Khashoggi, cujos restos mortais passaram a ser procurados nas proximidades da edificação. E o governistas turcos afirmaram que esta morte não será “acobertada”.
O escândalo é flagrante. Governos totalitários agem assim: as autoridades autorizam o serviço sujo e livram a cara punindo seus subalternos. Defensor dos direitos humanos, os EUA terão de “engolir” essa trapalhada de seu maior aliado no mundo árabe. A vida de um homem não vale nada diante dos interesses geopolíticos e econômicos das nações.