EDITORIAL

O velho e o novo

Tivemos uma demonstração de como as coisas funcionam no Brasil com algumas decisões tomadas recentemente


Publicado em 23 de dezembro de 2018 | 03:00
 
 
 
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O país está prestes a mudar seus dirigentes. O novo governo anuncia que vai praticar uma nova política. Talvez, por isso mesmo, o atual establishment resista, adotando condutas que vão impactar as ações dos novos mandatários.

Tivemos uma demonstração de como as coisas funcionam no Brasil com algumas decisões tomadas recentemente. A mais importante delas foi o aumento de salários para os ministros do Supremo e do Ministério Público Federal.

O professor Roberto Mangabeira Unger já foi uma figura folclórica da política brasileira. Por causa disso, nunca foi muito levado a sério, apesar de ostentar o título de professor de Harvard e de conselheiro do candidato Ciro Gomes.

Ele é um dos cientistas sociais que hoje, no Brasil, se esforçam para entender a nossa realidade. A sua teoria não deixa de ter originalidade e é uma pena que ele não tenha sido ouvido, como ministro, nem por Lula nem por Dilma.

Segundo ele, o Brasil é palco onde se exercita, depois da redemocratização, a “política de cooptação”. O termo é mais abrangente do que o do cientista político Sérgio Abranches, que criou o “presidencialismo de coalização”.

Sob a liderança do PSDB e do PT, a sociedade brasileira partilhou os recursos arrecadados e administrados pelo Estado de acordo com seu poder. Embaixo, os mais pobres recebem os recursos das transferências sociais.

No meio, o que ele chama de emergentes, uma pequena burguesia empreendedora é acompanhada pela massa de trabalhadores formais e informais. Entre esses, as minorias organizadas, apegadas a seus direitos adquiridos.

No topo, os grandes empresários, que ficam com a melhor parte do Estado, às vezes por meio da corrupção: os subsídios, as desonerações, os financiamentos. As oligarquias e as corporações ficam com a melhor parte.

Durante anos, isso funcionou. A Lava Jato desvendou esse esquema, abrindo os olhos dos emergentes, que, sem representação política, por enquanto estão depositando sua confiança no novo governo.

A velha política, porém, como tem demonstrado, não abre mão do poder. 

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