Um país que precisa desesperadamente reencontrar o caminho do crescimento não pode conviver com fatos como a perda de 4,6 milhões de leitores em quatro anos. O dado, divulgado no fim da semana passada, reflete dois fatores: a expansão do uso da tecnologia e o desincentivo ao hábito da leitura.

Atualmente, com 225 milhões de celulares no país, os smartphones se tornaram a plataforma de acesso a livros e textos digitais que mais cresce, segundo a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”. Infelizmente, as publicações online ainda são acessadas por somente 20% dos leitores, cujo principal acesso às letras é pelo impresso.

E, de acordo com outro levantamento, realizado pela Associação Nacional de Livrarias, o volume de livros caiu 11,2% nos primeiros sete meses deste ano, chegando a 4,5 milhões de unidades vendidas em julho, contrariando a expectativa de que, com o isolamento social, as pessoas usassem o período dentro de casa para se capacitar e se ilustrar com a leitura.

Por trás dessa aparente contradição está a falta de incentivo. Somente um em cada três brasileiros é estimulado pela mãe a ler, e apenas um em cada cinco tem o pai ou uma figura masculina a instigá-lo a abrir um livro. Com a baixa procura, as tiragens são reduzidas, os custos de produção sobem, e fica difícil popularizar o acesso às letras por meio do preço.

Aí entra um segundo complicador. Com a reforma tributária, vieram pressões para acabar com a imunidade de impostos sobre livros, jornais, periódicos e papel para impressão, prevista no artigo 150 da Constituição. A aplicação de pelo menos mais 12% de tributos sobre o preço de capa terá o poder de aprofundar ainda mais o fosso da leitura e prejudicar o acesso das classes menos favorecidas à educação e à ascensão econômica.