Não é preciso ser bombeiro ou ambientalista para ver a gravidade dos incêndios em áreas verdes de Minas Gerais. Está no ar. Em duas semanas, o Corpo de Bombeiros atendeu 140 ocorrências por dia, em média. Somente na quarta-feira, quando houve temperatura recorde no Estado, foram 256 focos detectados.

A fuligem em suspensão provoca doenças respiratórias, aumenta a sensação de calor e afugenta animais silvestres para as áreas urbanas, provocando a morte deles ou mesmo acidentes em estradas e ruas. Mas o impacto não para por aí.

De acordo com a Cemig, mais de 380 mil clientes tiveram o fornecimento de energia cortado por causa de linhas de transmissão e distribuição danificadas pelas chamas florestais. O número de ocorrências neste ano é 60% superior ao do ano passado. Isso significa mais casas, mais lojas, mais indústrias e até mais hospitais sem energia para fazer funcionar seus equipamentos, indispensáveis para a preservação da vida.

Dois fatores contribuem para a proliferação do fogo nas matas. O primeiro é a baixa umidade do ar neste período. O segundo, e de maior impacto, é a ação humana. Não apenas pelo delito de fogo intencional previsto no artigo 41 da Lei de Crimes Ambientais, mas pela ocupação acelerada e, não raro, desordenada.

Em dez anos, a população urbana de Minas Gerais passou de 14,6 milhões para 16,7 milhões, avançando sobre áreas onde antes havia cobertura vegetal. Para se ter uma ideia, dos dez municípios que mais devastaram a Mata Atlântica, cinco são do interior mineiro e, juntos, devastaram o equivalente a mil campos de futebol.

Prevenir o fogo nas matas e promover uma integração melhor entre o homem e o ambiente são vitais para impedir um horizonte que, hoje, infelizmente, já é cinzento.