Mais respeitado entre os tucanos, o ex-presidente Fernando Henrique se referiu, várias vezes, à importância de PT e PSDB se unirem em torno de um verdadeiro projeto nacional. Sincero ou não, sabemos bem que o apelo não foi ouvido por nenhuma das partes. Ao contrário: os anos seguintes à redemocratização foram marcados justamente pela guerra acirrada entre as siglas, fundadas em torno das questões sociais. A queda da representação de ambos os partidos nestas eleições gerais superou qualquer projeção. A polarização entre PT e PSDB alimentou o verdadeiro motor do pleito atual: o antipetismo.
A falta de estratégia e os erros sucessivos do PT acabaram por fortalecer seu contrário: saímos desse primeiro turno vivendo em um país de direita. O PSDB sai fragilizado destas eleições: lugares em que a sigla brilhava havia mais de uma década foram ocupados pelo PSL de Bolsonaro.
De centro-esquerda, o PSDB nunca foi claramente antipetista. Ao contrário do PT, fazia uma oposição envergonhada. Contemporizou em várias oportunidades em que poderia ter explorado as mazelas do adversário. Acabou indo parar na vala comum da crise dos partidos.
Disso se aproveitou Bolsonaro. Puxado pelo candidato, o PSL conquistou 98% dos municípios dominados pelo PSDB desde 2006. Os eleitores desse partido não são fiéis como os petistas e se bandearam para a direita simplesmente por serem contra o PT.
O malogro do PSDB é trágico, é quase um suicídio político. O partido amealhou apenas 5% dos votos. Mas o fracasso se estende às esquerdas de partidos menores, queimadas por tabela pelo levante conservador desejado pela sociedade.
Duas oportunidades foram perdidas: a primeira, durante o mensalão, com o pedido do então ministro Tarso Genro de refundação do PT. A segunda, com os acontecimentos de 2013. Daí para a frente a queda passou a ser irreversível, e a guinada conservadora encontrou lugar na cena política manchada por escândalos e, vemos agora, na aversão social ao binômio de tendência de esquerda que esteve à frente da administração pública nos últimos anos. Bons projetos pessimamente conduzidos por seus autores.