EDITORIAL

Tal como chernobyl

Redação O Tempo


Publicado em 09 de dezembro de 2015 | 04:05
 
 
 
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Uma delegação da ONU está no Brasil para investigar a responsabilidade dos governos e das mineradoras no desastre de Mariana. A visita oficial do grupo de direitos humanos estava agendada antes do acidente, mas agora seus integrantes vão se deter nele. Segundo eles, não houve um simples acidente, mas um crime. 
 
Crimes ou, pelo menos, responsabilidades são também o objeto da investigação do Ministério Público Federal. Várias irregularidades estão sendo arroladas. O TEMPO publicou ontem que a barragem do Fundão, que se rompeu, era usada também por outra mineradora, que dessa forma se tornou também responsável. 
 
Ambas as mineradoras assumiram o risco do rompimento da barragem ao não comunicarem às autoridades esse uso conjunto, depositando nela uma quantidade maior de rejeitos do que declararam. Cada vez fica mais evidente que ocorria uma superprodução de minério, sobrecarregando a capacidade da barragem.

Em meio a tudo isso, surge a informação de que a mineradora, a par de continuar com suas atividades, pretende transformar o povoado de Bento Rodrigues em bacia de rejeitos da mineração. Contra isso, se insurge o prefeito Duarte Júnior, de Mariana, para quem o espaço deveria ser transformado em lugar de oração. 
 
Tem toda a razão o prefeito. Ele esteve na COP-21, em Paris, e visitou Nord-Pas de Calais, até 1990 a última mina de carvão da França. Com seus morros de rejeitos de carvão, a cidade hoje vive do turismo. Com suas ruínas, Bento Rodrigues seria transformada em memorial, tal como Chernobyl, na Ucrânia. 
 
O que restou de Bento Rodrigues não deve ser demolido. Deve ser guardado como um monumento, como são outras cidades-fantasmas no mundo. Da desgraça emerge a primeira alternativa de diversidade econômica para Mariana – o turismo –, vez que ela se entregou, há alguns séculos, unicamente à mineração. 
 
A perenidade do exemplo é o legado de Bento Rodrigues e seus antigos moradores.

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