Um profissional de saúde exausto com as marcas da máscara no rosto faz um apelo à população sobre a gravidade da pandemia e publica o vídeo na internet. Esta cena tem sido frequente em todo o país e é protagonizada por médicos, enfermeiros e outros da área. São esses trabalhadores que testemunham nos leitos hospitalares a face mais palpável da Covid-19. Se, aqui fora, tivemos a impressão de que as infecções teriam arrefecido no fim do ano passado e até ensaiamos flexibilizações nas medidas de prevenção, quem atua na linha de frente sabe que o cenário segue caótico.
É de conhecimento geral a necessidade de investir em respiradores e outros aparelhos hospitalares, mas sem funcionários capacitados esses paramentos não têm valor algum. Em Belo Horizonte, por exemplo, a falta de profissionais de saúde impede a abertura de leitos de UTI. E a rotina desgastante tem levado ao aumento do número de pedidos de licença médica em hospitais. Esses problemas se intensificaram com a pandemia, mas a falta de profissionais não é novidade no Brasil.
A média de médicos por mil habitantes no país é de 2,8, o que atende o recomendado pela Organização Mundial da Saúde que é de 1 médico para cada mil pessoas. Entretanto, moradores que vivem em cidades do interior têm dificuldade em ter acesso a esses profissionais. Falta também capacitação. Em pesquisa feita pela Fundação Getulio Vargas (FGV), 52,2% dos médicos não receberam treinamento durante a pandemia.
Estratégias para capacitar e gerir melhor esse recurso humano devem ser adotadas pelos Estados, municípios e União. A maior valorização desses profissionais precisa ser um dos legados da pandemia.