Em 26 de fevereiro de 2020, foi confirmado oficialmente o primeiro caso de Covid-19 no Brasil. Naquela época, a crença popular era de que o perigo maior estava na China e que, devido às especificidades do clima e da cultura locais, dificilmente viveríamos as mesmas dificuldades observadas no país asiático.

Exatamente um ano depois, os chineses retomaram sua rotina e registram poucas dezenas de novos contágios por dia, e em várias partes do mundo a letalidade diminuiu, enquanto por aqui se contam mais de 250 mil mortes desde o início da pandemia e vive-se um novo pico da doença que provoca mais de mil óbitos por dia há mais de um mês.

Por trás de tamanha inversão de expectativas está um misto de reação tardia, descaso com prevenção, falta de consenso entre os diversos níveis da Federação e uma profunda falta de solidariedade expressa na resistência ao uso da máscara, nas aglomerações infecciosas e, agora que a vacina começa a chegar a conta-gotas, nos moralmente indefensáveis  fura-filas – sintoma de uma cultura de privilégios que contamina toda a América do Sul a ponto de ganhar destaque nas páginas do “The New York Times”.

Com esse imenso custo em vidas e recursos, é inadmissível que não se tire aprendizado dos erros cometidos até agora ou não se corrija o rumo das ações em direção à tão desejada cura. Já passou da hora de municípios, Estados e União coordenarem esforços, superando vaidades e aspirações políticas, para que equipamentos médicos e imunizantes essenciais cheguem a quem realmente precisa. Igualmente, não existe mais justificativa para preconceitos e comportamentos egoístas na população que jogam por terra os esforços diários de médicos e enfermeiros e que somente prolongam e fortalecem a pandemia.