Editorial

Voltas que o mundo dá

É preciso haver limites para o retrocesso


Publicado em 16 de novembro de 2019 | 03:00
 
 
 
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Causada por uma bactéria que vivia nas pulgas dos ratos, a peste negra era considerada, na Idade Média, um castigo divino contra os pecados da sociedade. Sua cura, portanto, era questão de fé – não de saúde pública. Mais de 600 anos depois do início da devastadora epidemia, doenças e tratamentos retornam ao âmbito da crença.

Apesar de todo o avanço da imunologia, pesquisa da Sociedade Brasileira de Imunizações com a ONG Avaaz revela que uma em cada cinco pessoas acredita que “há boa possibilidade de as vacinas causarem a doença que dizem prevenir”. Para 14%, “o governo usa vacinas como método de esterilização forçada da população pobre”.

A essas pessoas, a ciência não interessa – vale o conteúdo que chega pelo WhatsApp com cara de verdade. Fake news com verniz de credibilidade. Essas afirmações, que sustentam o movimento antivacina, estão trazendo de volta enfermidades como o sarampo, que, quando não mata, apaga, em média, 20% da memória imunológica do nosso organismo. Segundo os pesquisadores de Harvard que fizeram essa descoberta, o vírus do sarampo, quando não é fatal, é chave para liberar a entrada de novas doenças.

E fica pior. Quem deseja exercer seu direito de ser vacinado esbarra em dificuldades: ora faltam vacinas na rede pública ou na privada, ora a geladeira do posto de saúde estraga, ora os funcionários fazem paralisação ou estão doentes, sem substituição, e a dose preventiva não chega a quem precisa dela.

Tão importante quanto sanar esses problemas estruturais é acabar com a reprodução de notícias falsas. Quando um cidadão acredita que a terra é plana, é um ponto de vista individual. Mas, quando ele crê que não deve se vacinar, transforma sua convicção em ameaça à saúde pública. É preciso haver limites para o retrocesso.

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