Boa parte da imprensa e aqueles jurássicos e incorrigíveis 30% dos eleitores experimentam “frissons” a cada nova investida insana de Verdevaldo & Cia contra Moro e a Lava Jato. Faz parte do script, nada demais, é só o Império contra-atacando. Ao mesmo tempo, milhões de brasileiros de boa audição – e que não são nada bobos – continuam aguardando ansiosamente as gravações de outras conversas sucedidas talvez em passado recente do Brasil.

Falo das mensagens, e-mails, ligações telefônicas e similares que devem ter rolado entre o pessoal daqui e mancomunados instalados em ditaduras latino-americanas e africanas durante os desgovernos Lula e Dilma. Façamos um exercício de imaginação:

– Alô? É da Venezuela? 
– Si! Buenos dias, compañero! 
– Tudo beleza? Só pra saber se já saiu nossa comissão das obras do Estaleiro Astialba, do metrô de Caracas, linhas 3, 4 e 5; do metrô de Los Teques; do projeto de saneamento e da siderúrgica nacional.
– Tudo certo! Vamos depositar mañana! 
– Gracias! 
Outra ligação internacional:
– Está lá? É de Angola?
– Pois! 
– Como vai esse regime autoritário de uma das nações menos democráticas do mundo e uma das mais corruptas conforme índice da Transparência Internacional? 
– Vamos bem, ó pá! Enganando o povo e enchendo as burras! 
– Ótimo! Já receberam aqueles boletos de nossas obrinhas? Estamos cá a esperar o jabá!

Na surdina, aplicado em países onde as auditorias são feitas pelos filhos e amigos do ditador de plantão, parece que foi assim que muito do dinheiro que faltou ao Brasil se espalhou pelo mundo. Se você quiser estragar sua quinta-feira, entre no site do BNDES, pesquise e indigne-se. Está tudo lá, na parte “Contratos de financiamento de exportação de serviços de engenharia”. 
A lista de nações contempladas pela benevolência desinteressada dos companheiros é simbólica. Angola é a recordista, recebeu cerca de cem projetos bilionários. Depois seguem-se Argentina, Costa Rica, Cuba, Equador, Gana, Guatemala, Honduras, México, Moçambique, Paraguai, Peru, República Dominicana e – claro – a Venezuela de Chávez e Maduro. 

O dinheiro que faltou no Brasil para obras essenciais foi usado nesses países para construir aeroportos, sistemas de saneamento, escolas, estradas, hidrelétricas, portos, aquedutos – os capetas. Uau! Quanto teria sido desviado de “comissão” para engordar bolsos, bolsas, sacolas, partidos e contas bancárias no exterior? 
Clicando no link que detalha cada obra, vê-se a onipresença das construtoras envolvidas no maior escândalo de corrupção do país denunciado pela Lava Jato. Cúmplices dos poderosos de então, fizeram quase tudo nesses paraísos das obras sem controle. Pormenor inquietante: nas reproduções dos contratos no dito Portal da Transparência, muitos valores estão cobertos por uma tarja negra, com a observação: “informação sigilosa”. Epa! Que porcaria de transparência é essa, BNDES? 

A coisa vai caminhando, para terror de alguns. Tremem e roem unhas bandidos daqui e d’além-mar. A caixa-preta vai ser aberta, sem dúvida. E, ao contrário das caixinhas de música que acalentam nossas almas, a melodia que sairá dela vai deixar muita gente sem dormir. Ou melhor, como esperam milhões de brasileiros: vai fazer trilha sonora para quem acordar vendo o sol nascer quadrado.