O eixo do programa de governo da extrema direita brasileira, fundado na guerra cultural, é a crueldade. Lá se vão quase dois anos de retórica antissistema que hora retrocede às cavernas, hora adere às práticas condenáveis da vida política nacional.
Não bastasse o negacionismo da gravidade da pandemia do novo coronavírus, que levou o país a ocupar a segunda posição mundial em número de infectados e mortos, multiplicam-se no Brasil os descalabros promovidos por antiministros de áreas estratégicas da vida nacional.
Externamente a imagem do Brasil anda de tal forma degradada que, além de afugentar os necessários investimentos em sua economia, denigre a imagem do brasileiro comum que deixa de contar com a tradicional simpatia de povos civilizados. Internamente, a demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública evidencia os propósitos de reverter as ações de combate à corrupção, mote da campanha presidencial de 2018.
No momento, a operação Lava Jato, que escancarou a corrupção sistêmica e levou à prisão de políticos, doleiros e grandes empresários encontra-se sob severos ataques de governistas e de seus adversários à esquerda. As sucessivas trocas ou mesmo ausência de ministros nas áreas vitais da Saúde e da Educação por razões ideológicas e, agora, também pela cobiça do chamado “centrão” causam profundos danos ao combate da pandemia e comprometem o futuro dos jovens brasileiros.
Posto que o eixo da economia mundial mudou da produção de bens para a produção de conhecimento, jamais faremos parte do Primeiro Mundo já que o descaso pela educação e os ataques à ciência são alvos da guerra cultural levada a cabo por uma direita que inclui de detratores das causas ambientais a terraplanistas.
Por sua vez, à falta de um comando central, o combate ao coronavírus ficou a cargo de prefeitos e governadores. Tal descentralização, aparentemente democrática, se foi bem-sucedida em alguns estados e municípios, em outros deu margem à ineficiência, ao escandaloso desvio de recursos públicos e à mortandade.
Minas Gerais é um caso à parte. Parecia imune à Covid-19 durante os primeiros meses de seu surgimento no Brasil. A que se deve a baixa incidência de casos em Minas? Sorte? Bom comportamento da população? O mais provável é que o baixo dinamismo econômico e turístico do Estado o tenha protegido da circulação de estrangeiros e, com isto, evitado a rápida circulação do vírus. Mas, de repente, fomos surpreendidos por taxas de ocupação das UTIs acima dos 90%. A que atribuir este fenômeno? À acomodação do governador do Estado que, apesar de decente, revela-se um novo “picolé de chuchu”.