Frederico Jota

O risco de uma administração temerária no futebol

Má gestão leva clubes tradicionais a fechar as portas e expõe o cuidado que deve ser tomado ao repassar a administração para um investidor sem planejamento

Por Frederico Jota
Publicado em 03 de setembro de 2019 | 21:43
 
 
 
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Imagine se você torce para um clube que tem 134 anos de existência e com uma história de conquistas e tradições, mesmo atuando em ligas inferiores, e, de uma hora para outra, esse clube deixa de disputar competições profissionais e seu torcedor fica a ver navios. É o que aconteceu com o Bury, da Inglaterra. Com dois títulos da tradicionalíssima FA Cup, a Copa da Inglaterra, mesmo que no início do século passado, o Bury estava na terceira divisão e, atolado em dívidas, não quitou as pendências no tempo solicitado pela FA, a federação inglesa, e acabou excluído do futebol profissional da terra da rainha.

O Bury não conseguiu um comprador para quitar suas dívidas, que foram acumuladas pelo seu dono ao longo dos anos. O mesmo que não teve a capacidade para organizar uma eventual venda no prazo necessário. Antes mesmo da decisão final, sem garantias para pagar funcionários e cumprir com todas as suas obrigações, o Bury começou a temporada com 12 pontos negativos. A equipe nem chegou a entrar em campo nas cinco primeiras partidas, suspenso. O caos levou torcedores a visitarem o estádio, aos prantos, sem saber quando poderão voltar a ver um time da cidade em ação. Sem divisão e sem um calendário, não dá para imaginar o que pode acontecer com o clube. Em tese, no momento, ele está fechado.

O fim quase aconteceu com outro clube tradicional e mais conhecido dos brasileiros, o Bolton. Também na terceira divisão, o Bolton sofria dos mesmos males: uma administração equivocada que afundou o clube em dívidas e o colocou às portas de uma liquidação e, basicamente, às portas da extinção. Ao contrário do Bury, um comprador adquiriu o clube a tempo. O Bolton também começou o torneio com 12 pontos negativos e não vai ser fácil a recuperação. Mas, pelo menos, não deixou seus torcedores órfãos. 

Nos parágrafos anteriores, muitas coisas em comum: administrações equivocadas, despesas maiores do que as receitas e a espera pela salvação por meio de um mecenas. Recentemente, foi aberta a possibilidade de os clubes brasileiros poderem ser comprados por investidores estrangeiros, o que foi muito comemorado por alguns torcedores, que passaram a sonhar com destinos como os de PSG e Manchester City, casos de sucesso de injeção econômica. O Brasil já teve exemplos que não funcionaram, no início deste século, como o da ISL, que, para ficar só nesse caso, fez uma parceria com o Grêmio e faliu, deixando dívidas alarmantes para o clube gaúcho.

Qualquer investimento no esporte é louvável e bem-vindo, mas ele precisa ser feito com critério e dentro dos limites. Se chegarem novos investidores no futebol brasileiro, que cheguem com os pés no chão, respeitem a legislação e se programem para as despesas futuras. Hoje, por aqui, ainda não existem punições em pontos como a citada acima, na Inglaterra, para os clubes que não cumprem com suas obrigações, mas o mau exemplo serve de alerta. Os torcedores não podem perder o motivo de sua paixão de um dia para o outro. Que não existam mais Burys por aí.

 

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