Mal despontamos no mundo, e já nos vestem de cor-de-rosa. Mães, cheias de caprichos, ainda na maternidade pedem para furar nossas orelhas, enfeitando-as com minúsculas bolinhas douradas. Dizem que a cartilagem é fininha e, por isso, não dói. Hum... sei. E quem é que garante?
Minhas filhas fizeram como eu, só furaram quando bem entenderam e por vontade própria. Uma delas teve tanta vontade que furou seis buracos de uma vez, três em cada orelha.
– Filha, você está maluca? Desse jeito a orelha cai!
– Que isso, mãe!
Felizmente, no lugar de penduricalhos, colocou bolinhas e algumas coisinhas miúdas como as de bebês. Confesso que gostei, embora não tenha aprovado de todo.
– Filha, não se fura orelha à revelia. Esse é um lugar onde existem pontos energéticos. Se furar no lugar errado, pode te complicar a vida, sabia? Ao menos vá a um acupunturista para que ele te mostre os locais certos.
– Que isso, mãe!
A outra, ainda menina e influenciada pelas amigas, cismou de fazer tatuagem.
– Não, não e NÃO! – fui radical. – Quando for mais velha e estiver ciente de que realmente é isso o que quer, faça, mas não agora.
E, claro, ela fez. Com 18 anos passou a carregar um símbolo do infinito no corpo. E eu, para bem dizer a verdade, adorei. Discreta, pequena, charmosa... a cara dela!
Hoje, diferentemente do meu tempo de adolescente, muitas garotas andam produzidíssimas: maquiadas, cabelão na cintura, óculos escuros cobrindo metade do rosto, sandálias altas, luzes nos cabelos e caras de adultas. E me pergunto: pra que isso tudo?
Na minha época, eu só usava batom vermelho e sandália alta para parecer mais velha e poder entrar no cinema. Também para não ser chamada de “pirralha” pelo menino que normalmente não me dava a mínima. Para piorar, ainda enfiava um Hollywood na boca e saía com o maço despontando no bolso. Só fui cair na real quando, com 15 anos, após uma aula de balé, resolvi acender meu Hollywood. A primeira a ver a cena foi a professora, escandalizada.
Laura, você fuma??? – dali a pouco se juntaram outras e mais outras ao meu redor.
– Menina, quantos anos você tem?
E eu, com a vozinha mais sumida do mundo:
– Quinze!
E uma delas, para acabar de me acabar, saiu-se com esta:
– Oh! Pensei que você tivesse uns nove!
Depois disso, entendi que não seria o cigarro nem o batom vermelho que me fariam entrar no cinema ou ser olhada pelo bonitão do terceiro ano. Na minha época, fumar era bacana, agora é feio. Ponto para os jovens de hoje, que ganharão saúde e mais alguns anos de vida pela frente.
Há muito deixei de fumar e de usar sandálias que me derrubam. Nada como buscar a simplicidade e o conforto no dia a dia. Procuro mostrar isso às minhas filhas, que, felizmente, de frescura e modismos bobos não têm nada. Tanto faz se a camiseta é da Forum ou da C&A. Marca da etiqueta, para nós, está longe de ser essencial.