O país vive um momento de crise política, aguçada pelo velho problema de um sistema corrupto, incompetência administrativa e uma cultura de complacência e conivência que somente uma mudança profunda no modo de ser do brasileiro vai ajudar a resolver.
Muita gente diz que vai sair às ruas no dia 15. Protestar não é golpe, e sim um direito democrático. Mas um assunto óbvio que sempre fica de fora do debate político e da revolta do povo é o problema ambiental. Esse não é pequeno. O Brasil já sofre as consequências sérias da mudança climática, a seca como sua manifestação mais óbvia. Mas, apesar disso, o brasileiro em geral prossegue como se nada estivesse ocorrendo até faltar água na sua torneira.
A crise não é passageira. Pelo contrário, estamos apenas no começo. Com o desmatamento em volta das nascentes por todo o país e na floresta amazônica, o clima mudou radicalmente. Não podemos mais contar com os mesmos níveis de precipitação de chuva que até hoje sustentaram nossa agricultura e rios. Um relatório recente do governo americano diz que a mudança climática está acontecendo mais rapidamente do que se pensava. E, apesar de tudo isso, temos a inércia. Ou pior ainda: ações contrárias ao meio ambiente, como mais desmatamento para monoculturas e gado, mais mineração, mais carros e mais portos sem estudos de impacto ambiental. Que tipo de futuro estamos construindo?
Em algumas cidades, constrói-se ciclovias, o que é bom. Mas não nos deixemos iludir por essas medidas cosméticas. Mesmo que uma porção significante da população começasse a pedalar em vez de usar um carro, isso não resolveria a questão do aquecimento global, já que bicicleta é mais uma questão de mobilidade urbana do que de sustentabilidade, apesar de, obviamente, ajudar a diminuir a poluição atmosférica.
Precisamos de políticas públicas biocêntricas, onde o meio ambiente é sempre a prioridade. Precisamos explorar novas fontes renováveis e limpas de energia e novos modos de transporte. Precisamos de um novo design de produtos que leve em consideração um mundo de recursos finitos. Precisamos de saneamento básico adequado em todo o país para limpar os rios e proteger os mares. Precisamos acabar com a pesca predatória. Precisamos de mais árvores nas cidades e de mais florestas. Precisamos proteger nossa fauna com a preservação de seus habitats. Precisamos mudar nosso comportamento e reverenciar o planeta e tudo aquilo que ele nos oferece.
Neste dia 15 de março, aproveite e faça uma reflexão sobre a presença humana neste planeta, que no momento está sendo estuprada por um modelo predatório e suicida. Nosso conceito de desenvolvimento é ultrapassado e perigoso. Precisamos imitar a natureza, e não dominá-la. Reciclar produtos feitos a partir da atual filosofia do crescimento inexorável é muito louvável e produz alguns resultados, mas não vai salvar o planeta. Nós precisamos de tecnologias que reciclem em massa, reaproveitem todo o detrito produzido pelo ser humano em forma de energia ou bens de consumo, que devem ser reaproveitados ad-infinitum. Precisamos consumir menos e buscar a felicidade em momentos e experiências, e não no acúmulo de bens desnecessários.
Não lute por um sistema velho e insustentável. Pense em uma nova forma de viver, um sistema radicamente novo. Não se iluda. Essa crise política em que vivemos é sintoma e presságio de uma grande crise ambiental que já afeta o planeta todo. Se não enxergamos isso e não partirmos para a ação política coletiva, o futuro vai ser um caos permanente.
Faça do dia 15 de março uma oportunidade de mudança filosófica e exija ação de nossos governantes. Mas não apenas delegue: faça também a sua parte. Informe-se. Não temos tempo a perder. Precisamos de um impeachment desse sistema antivida.
Lobo Pasolini é jornalista, blogueiro e videomaker. Escreve sobre energia renovável e questões verdes para www.energyrefuge.com e www.energiapositiva.info
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