Não há brasileiro que possa estar tranquilo diante do quadro que o país vive. Ameaças de falência total da indústria, dos serviços, do comércio, do Estado e até mesmo das instituições. Em quem confiar? O presidente da República, com inconteste liderança, tem encorajado com sua fala e seu estilo que todos retomem suas atividades, em princípio contrariando orientação do Ministério da Saúde e de seu ministro, Luiz Henrique Mandetta, que hoje se transformou nacionalmente na mais destacada figura no enfrentamento com o coronavírus. Ponderado e estribado em dados estatísticos e conhecimento científico, como médico que é, Mandetta defende radicalmente o isolamento total, com concessões mínimas de circulação e reunião de pessoas.
Com tal postura, Mandetta hoje representa um dos mais cintilantes nomes do governo Bolsonaro, capaz de, em vários momentos que vivenciamos, exercer a voz referencial desse quadro tão crítico. Segundo ele, o coronavírus, grave como é, poderá dizimar grande parcela da população que vier a ser contaminada e não chegar a ser atendida pelo sistema público de saúde. Assim, está estabelecido o conflito que o cidadão comum, empregador ou empregado, rico ou pobre, não consegue resolver, porque jogam a mesma contenda que resultará na perda da saúde e até da vida contra a fragilização ainda maior da economia e suas consequências: o desemprego extremo, a falta de crédito, a falência das empresas e do próprio Estado.
Na segunda fila, falando com autoridade pelos seus Estados, governadores e chefes dos Poderes Legislativo e Judiciário optam pelo isolamento total ou vertical – esse último sendo o que se resume a manter em casa as pessoas maiores de 60 anos, os cardiopatas, os diabéticos e outros salvados do incêndio. São regras convencionais, adotadas quase sempre sem embasamento técnico, apenas manipulando estatísticas e decidindo sobre a vida de seres humanos.
No último fim de semana, o superministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou os números que manejará do nosso Orçamento, cambeta e já insuficiente para atender as demandas mínimas e correntes do país. Quase R$ 1 trilhão. Com a sociedade a cada dia mais revoltada com os políticos, as rubricas que invariavelmente lhe chegam às mãos para confiscar são as verbas destinadas ao custeio das próximas eleições, do Fundo Partidário e da manutenção do Senado, da Câmara dos Deputados e da cozinha do STF, cujos montantes são sempre comparados com o investimento em CTIs, máscaras de proteção, testes rápidos, respiradores e artigos do gênero.
Sem decisões emocionais nem a irresponsabilidade de palpiteiros, urgente é construirmos um norte, sério, concreto, fundamentado em valores científicos, para que o cidadão possa ajudar no encontro de um destino seguro, sempre que puder menos lesivo para o país e para a família brasileira. Entramos enfraquecidos nessa crise, com disputas políticas, medíocres e inoportunas e que já vinham agravando as dificuldades do nosso dia a dia. Se ampliarmos esse quadro de incerteza e insegurança, vamos seguir nos matando. Sem volta.