Assistimos nas últimas semanas à precoce crise do governo Dilma. Logo após o período conhecido como "lua de mel", Dilma se viu em situação preocupante, que combinava ameaça de descontrole inflacionário, desastrosa condução na votação do Código Florestal e conflitos com a bancada evangélica. Para agravar o inesperado "inferno astral", o principal ministro do governo foi colocado em xeque, exposto por denúncias levantadas pela "Folha de S.Paulo" quanto a práticas questionáveis no período (2006-2010) em que Antonio Palocci era deputado federal e coordenador da campanha de Dilma e da transição governamental.

Considero Palocci o melhor quadro do PT depois do ex-presidente Lula. Foi ele o grande fiador da equipe econômica para que, numa brusca virada em relação ao programa histórico do PT, fossem mantidas as bases do Plano Real. Um quadro mais experimentado inclusive que a própria presidente Dilma Rousseff, que chegou ao poder fruto de uma série de acidentalidades da era pós-mensalão. Se não fossem José Dirceu e Francenildo, Palocci provavelmente ocuparia a cadeira presidencial.

As informações de que Palocci teria multiplicado por 20 seu patrimônio, realizado compras imobiliárias milionárias e faturado, só em 2010, cerca de R$ 20 milhões caíram como bomba num quadro já explosivo. O silêncio eloquente e retumbante, por três semanas, agravou a situação. A entrevista ao "Jornal Nacional" pouco ajudou. Não é crime ficar rico. O problema é a prática incestuosa e não republicana misturando público e privado. Uma coisa é vender cimento, carros ou alimentos. Outra é vender serviços de consultoria. Como faturar R$ 20 milhões em consultoria, quando coordenava uma campanha, R$ 10 milhões, de novembro a dezembro, quando, como coordenador da transição, tinha acesso a informações estratégicas e sigilosas? Houve ou não tráfico de influência e lobby ilegítimo?

Some-se a isso a intervenção desastrosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que, em dois dias em Brasília, minou a autoridade da presidente Dilma e aguçou as dúvidas sobre sua real aptidão para a Presidência da República.

Ressalte-se que não falamos da discussão levantada sobre os conselhos de Nicolau Maquiavel ao Príncipe: "os fins justificam os meios". Nada a ver com o que nos fala Max Weber sobre ética de responsabilidade e ética de convicções. Norberto Bobbio clareou que o caráter amoral da política introduzido por Maquiavel tem a ver com objetivos de Estado e com conquistas da sociedade, e não com enriquecimentos individuais e objetivos particulares. A licença moral dada aos poderosos é para realizar grandes feitos. Não para incrementar faturamentos improváveis ou para a compra de apartamentos milionários.

Em nome da ética e em favor da governabilidade, o afastamento de Palocci foi importante.

Foi bom para o país, para a sociedade e para o próprio governo Dilma.