Leonardo Picciani, reeleito ontem líder do PMDB na Câmara dos Deputados, é um retrato perfeito de como funciona o balcão de negócios no Congresso e também de como não há nenhum vínculo ideológico da maioria dos parlamentares com propostas de governo A, B ou C. Há apenas interesses pessoais em jogo. Em menos de dois anos, o deputado federal pelo Rio de Janeiro virou a casaca radicalmente, passando de opositor do governo Dilma Rousseff ao posto de principal esperança do Planalto dentro do Legislativo.
Na campanha presidencial de 2014, Picciani não só fez campanha para o senador Aécio Neves (PSDB), como se apresentou publicamente como um dos principais apoiadores do presidenciável tucano em seu Estado, o Rio. No entanto, com a vitória de Dilma Rousseff e a cisão provocada na base do governo – especialmente no PMDB – após a eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara, o deputado fluminense viu o cavalo arriado passar a sua frente e não hesitou em mudar de time. Cooptado pelos governistas para ser uma oposição a Cunha no ninho peemedebista, Picciani aceitou e vestiu a camisa.
Não se sabe ao certo quais as bases da negociação, mas especula-se um convite para assumir um ministério. Aliás, essa possibilidade já era aventada antes da reeleição de Picciani. Agora, com sua vitória até certo ponto folgada (37 a 30) diante das previsões de uma disputa acirrada, seu cacife para cobrar a dívida com o Planalto só aumenta.
Fora a metamorfose ambulante do deputado do PMDB e deixando os escrúpulos de lado para se afundar no cenário amoral do Congresso, a vitória de Picciani deve ser vista como um importante ponto de sobrevivência para o governo Dilma Rousseff – e foi comemorada como tal.
O Planalto confia em Picciani três missões. Uma delas já foi iniciada ontem, o enfraquecimento de Eduardo Cunha. Acuado pela procurador geral da República, Rodrigo Janot, no âmbito da Lava Jato, o presidente da Câmara fica ainda mais fragilizado ao não conseguir emplacar seu candidato dentro do PMDB.
A segunda missão é consequência imediata da primeira. Com Cunha cada vez mais sem poder, a pauta do impeachment tende a perder força até ser engavetada por completo. Em terceiro, mas não menos importante, Picciani pode ser peça-chave para a aprovação das chamadas pautas-bomba do governo na Câmara, leia-se as medidas de ajuste fiscal e, inclusive, a recriação da CPMF.
Se, do ponto de vista da ética e da coerência, comemorar a vitória de Picciani parece um exagero e um descalabro, hoje em dia, para os governistas, essas são questões teóricas menores. Na prática, a luta é pela sobrevivência. Outros valores já foram abandonados há tempos.
Clique e participe do nosso canal no WhatsApp
Participe do canal de O TEMPO no WhatsApp e receba as notícias do dia direto no seu celular
O portal O Tempo, utiliza cookies para armazenar ou recolher informações no seu navegador. A informação normalmente não o identifica diretamente, mas pode dar-lhe uma experiência web mais personalizada. Uma vez que respeitamos o seu direito à privacidade, pode optar por não permitir alguns tipos de cookies. Para mais informações, revise nossa Política de Cookies.
Cookies operacionais/técnicos: São usados para tornar a navegação no site possível, são essenciais e possibilitam a oferta de funcionalidades básicas.
Eles ajudam a registrar como as pessoas usam o nosso site, para que possamos melhorá-lo no futuro. Por exemplo, eles nos dizem quais são as páginas mais populares e como as pessoas navegam pelo nosso site. Usamos cookies analíticos próprios e também do Google Analytics para coletar dados agregados sobre o uso do site.
Os cookies comportamentais e de marketing ajudam a entender seus interesses baseados em como você navega em nosso site. Esses cookies podem ser ativados tanto no nosso website quanto nas plataformas dos nossos parceiros de publicidade, como Facebook, Google e LinkedIn.
Olá leitor, o portal O Tempo utiliza cookies para otimizar e aprimorar sua navegação no site. Todos os cookies, exceto os estritamente necessários, necessitam de seu consentimento para serem executados. Para saber mais acesse a nossa Política de Privacidade.